Os árbitros e os dirigentes queixinhas

Os árbitros não estão nem podem estar acima da crítica, mas os adeptos têm de aprender a descodificar as queixas dos seus clubes, que, na maior parte dos casos, mais não são do que manobras dissimuladas para tentar retirar benefícios arbitrais nas jornadas seguintes. Referimo-nos, claro, aos "grandes", porque aos restantes de pouco lhes vale fazer o mesmo, por falta de repercussão mediática e de impacto junto dos próprios juízes e de quem os dirige.

Os homens, como um dia escreveu o marquês de Maricá, são sempre mais verbosos e fecundos a queixar-se das injúrias do que a agradecer os benefícios. O Benfica queixou-se de lhe ter sido assinado um penálti cuja falta só à terceira ou quarta repetição na TV é que se percebe ter ocorrido ainda fora da área. Foi também definitivo no protesto num lance em que as opiniões dos especialistas são maioritariamente no sentido de que Garay, independentemente de ter tocado na bola, atingiu depois o adversário (e os árbitros receberem indicações para assinalarem falta nestas situações).

Curiosamente, no lance do penálti (bem) assinalado a favor do Benfica, ninguém valorizou o facto de Rodrigo Galo ter sido expulso quando só devia ter visto o "amarelo" (o guarda-redes estava na baliza e no caminho da bola). Com isso, o Benfica jogou quase meio jogo em superioridade numérica. Da mesma forma, foi sintomático ver o Sporting publicar um comunicado após o jogo com o Gil Vicente só porque Labyad foi (de facto) mal expulso. Foi tão ridículo que ficou a ideia que só foi feito à pressa para substituir um outro eventualmente pouco agradável para Sá Pinto... O FC Porto tem estado caladinho, mas só porque os resultados lhe têm sido favoráveis. Mas, na primeira jornada, foi o próprio treinador a tentar justificar o empate em Barcelos com a suposta complacência de Duarte Gomes para com os empurrões na área dos gilistas. São formas diversas de atirar areia para os olhos dos adeptos.

O problema é que os órgãos dirigentes, que tinham obrigação de assumir uma postura pedagógica, acabam por contribuir para o ruído generalizado. Foi o que vimos fazer agora ao Conselho de Arbitragem (CD) da Federação, após Rui Gomes da Silva ter vindo a público com acusações e insinuações contra Carlos Xistra (que é, de facto, um árbitro fraco). Em vez de exigir ao vice-presidente do Benfica que apresentasse provas do que disse, sob pena de ser severamente punido, o CD remeteu o caso para uma Comissão de Instrução inventada pela Liga de Clubes e que ninguém sabe muito bem para que serve. Com isso, o CD faltou às suas próprias responsabilidades e ficou ao nível dos dirigentes queixinhas.



Sá Pinto passou a ser um treinador a prazo, com ou sem abraço da jibóia

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Domingos rescindiu o contrato com o Sporting a 13 de Fevereiro (continua a receber religiosamente o ordenado, porque foi isso que ficou acordado enquanto não encontrasse novo patrão). Os dirigentes terão ficado de tal forma satisfeitos com o trabalho de Sá Pinto que, a 25 de Maio, pouco mais de três meses depois, decidiram aumentá-lo e prolongar-lhe o contrato até 2014. Mais do que isso, deram-lhe lastro suficiente para que ele se sentisse à vontade para impor na estrutura alguns nomes cuja amizade com Sá Pinto já era conhecida desde os tempos em que todos eles eram ainda futebolistas (Dominguez, Porfírio e Pedrosa) e o acompanhavam aos concertos musicais. A própria publicidade do clube passou a procurar vender a imagem do "coração de leão".

A sorte de Sá Pinto vai agora depender do que acontecer frente ao Estoril (c), FC Porto (f), Académica (c), Setúbal (f), Braga (c), Moreirense (f) e Benfica e, para a Liga Europa, frente aos húngaros do Videoton e os belgas do Genk.

O que terá mudado tão vertiginosamente para que a administração tenha concluído que o tempo de Sá se esgotou ao fim de três jornadas? Sim, porque ninguém acredita que os três jornais tenham arriscado manchetes similares (Sá Pinto está por um fio, O Jogo; Sá Pinto na corda bamba, A Bola; Sá Pinto encostado às cordas, Record) sem que os respectivos responsáveis editoriais estivessem estribados em fontes fidedignas e bem colocadas na estrutura dirigente. As justificações dadas à estampa nas edições, e noutras publicações generalistas, não variavam muito. Punham em causa os métodos, as tácticas e a liderança de Sá Pinto e, em todos os casos, era criticada a reduzida utilização de diversos jogadores. Nessa listagem constavam Insúa, Rinaudo e Viola. Todos eles foram titulares frente ao Gil Vicente...

O instinto de sobrevivência de Sá Pinto pode ou não ter estado na origem da cedência, mas não deixa de ser verdade que, do ponto de vista táctico, o Sporting já tinha abdicado da estratégia demasiado poltrona na recepção ao Basileia. Bastou, para isso, inverter o triângulo no miolo e permitir que Elias funcionasse como um médio box to box. Até aí, Sá Pinto não tinha tido suficientes pretensões criativas e o meio-campo não conseguia conectar com os avançados. Por norma, garantia apenas um domínio tedioso. Era um futebol assente nas tropas pretorianas e que perdurava submetido à nomenclatura da contemplação, sem foguetórios. Enredava-se em vícios e não tinha movimentos de rotura nem quem tocasse a corneta na zona final.

Mas a revolução aconteceu, de facto, frente ao Gil, onde o Sporting apresentou os melhores momentos que já lhe vimos esta época, apesar de ter estado a perder durante quase 70". Houve quem considerasse que a iminência da desgraça tinha unido a equipa, mas o problema não vinha sendo a falta de sentido operário, antes pelo contrário. Na base da mudança esteve o 4x1x3x2 "à Jorge Jesus", que permitiu a Izmailov ter o papel de coordenação ofensiva. Rinaudo sozinho a "6" e Viola livre nas costas de Wolfswinkel também contribuíram para tornar o futebol mais frenético e revigorizante. Mas, atenção, como já ficou provado no Benfica, esta é um desenho admissível para boa parte de uma liga portuguesa cada vez mais empobrecida, mas aventureira para os testes mais difíceis. Porque tem muita tracção à frente e porque Izmailov é demasiado light na cobertura. Isso tornará, inevitavelmente, o Sporting descompensado defensivamente frente a adversários competentes.

Independentemente das virtudes da mudança, o busílis da questão continua a ser o mesmo. Das duas uma, ou a SAD se precipitou quando renovou o contrato de Sá Pinto ou então foi incoerente quando agora decidiu deixar o cutelo sobre o pescoço de um treinador que foi deixado sozinho e entregue à sua sorte. Seja ou não verdade, como alguém disse, que os festejos com o administrador Luís Duque registados pelas câmaras sejam uma espécie de abraço da jibóia...

bprata@publico.pt
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