Diálogo de gerações na Appleton
Appleton Recess é um ciclo de exposição colectivas na Appleton Square, em Lisboa, comissariadas por Ana Anacleto e Bruno Marchand e que vai agora na sua terceira edição. O projecto consiste em convidar para cada exposição três artistas de três gerações totalmente diferentes. Não se tratam de exposições temáticas, conceptuais ou de tese, mas de um diálogo entre diferentes tempos artísticos. Os artistas convidados não são escolhidos por afinidades disciplinares, materiais ou formais, mas por, de alguma maneira, possuírem afinidades muitas das vezes encontradas casual e intuitivamente.
Para esta terceira edição, os curadores convidaram Jorge Pinheiro (n. Coimbra, 1931), Ângela Ferreira (n. Maputo, 1958) e Nuno da Luz (n. Lisboa, 1984) e desta selecção nasceu uma exposição em que fotografia, desenho, escultura e sons tomam conta do espaço e constroem um território singular. Uma singularidade conseguida primeiro pelas obras individualmente, depois pelo modo como no conjunto os diferentes elementos ganham um novo sentido e as obras parecem não só falar umas com as outras, mas completar-se umas às outras.
Segundo Ana Anacleto, o pontapé de saída foram os desenhos dos 1970 de Jorge Pinheiro, que são uma espécie de mapas de pensamento do artista. Os lugares ali registados não designam nenhum lugar da geografia terrestre, mas reenviam para a subjectividade e imaginação do artista. E esta tentativa de cartografia e mapeamento de um qualquer território acontece igualmente na escultura e fotografias de Ângela Ferreira. O projecto apresentado faz parte da Maison Tropicale que realizou em 2007 quando foi a representante oficial portuguesa na Bienal de Veneza. Um trabalho nunca antes apresentado em Portugal e que decorre da sua investigação sobre a arquitectura de Jean Prouvé e sobre o modo como o seu desaparecimento do lugar de origem em África deu origens a situações urbanas estranhas e a processos bizarros. O trabalho de Nuno da Luz, uma instalação sonora produzida especialmente para o contexto da Appleton Recess, não tem a forma de um mapa, nem regista acontecimentos subjectivos ou arquitectónicos, mas apresenta um território: os seus sons, captados no bairro de Alvalade onde funciona a galeria, reproduzem a passagem do vento sob superfícies vibratórias, ampliada através da utilização dos pratos metálicos de uma bateria. Tudo elementos que fazem com que esta exposição seja sobre o esforço de cartografia e mapeamento de diferentes territórios, diferentes tempos e diferentes sensações. Nuno Crespo