Depois do protesto contra a "troika" e a classe política, muitos ficaram para a noite da D'Bandada, que levou mais de 40 concertos a vários locais inusitados do Porto.
Passar do protesto à dança não foi uma incongruência para Diogo Pinto, estudante de Medicina com 18 anos, que enquanto assistia a um concerto em plena Rua de Ceuta, disse à Lusa: "é importante que nos preocupemos connosco e o nosso futuro". Para Diogo Pinto, "chegando o final da tarde e a noite, e a partir do momento em que é disponibilizada uma oferta cultural como esta, então é de aproveitar."
"É bom para nós, para a cidade, os turistas estão a adorar e até acharam interessantes os protestos durante a tarde", considerou o caloiro de Medicina, para salientar que a iniciativa musical foi "totalmente gratuita", restando assim ter "algum espírito para combater e estar bem-disposto".
Corroborando as palavras do estudante de Medicina, Paula Paranaíba disse à Lusa estar "a adorar" a D'Bandada. "Lá no Brasil, a gente gosta muito de música brasileira e aqui estamos a adorar a música portuguesa também", disse a turista, de 21 anos originária de São Paulo, que não participou nos protestos. De acordo com o director de comunicação da Optimus, Pedro Moreira da Silva, que patrocina o evento, a sobreposição dos protestos com a música "foi apenas uma coincidência" que "apesar da proximidade física" acabou por se desenrolar de forma "bastante independente".
Mas o espírito de rua que a D'Bandada partilhou com os protestos poderá crescer nas próximas edições, já que a intenção será "perder um bocadinho o controlo editorial e de programação e de produção deste evento para transformá-lo numa festa das pessoas." "Ficaria muito contente se daqui a um ano estivesse a chegar ao centro do Porto num dia de D'Bandada e visse uma banda que pegou nos seus instrumentos e simplesmente apareceu para tocar num canto qualquer", disse à Lusa o responsável pela comunicação do evento.
Já durante os concertos nocturnos da D'Bandada, Claúdia Silva, advogada de 29 anos, permanecia nos Aliados em protesto contra a austeridade, sentada no meio da rua para cortar o trânsito com dezenas de outros manifestantes. Para esta resistente, "uma manifestação não se faz uma vez em cada mês, faz-se durante muito tempo", além de que deve "traduzir um desagrado" como o "desagrado nacional, que é contínuo." "Não devia parar hoje para irmos beber um copo e ficar tudo bem amanhã", disse à Lusa.