Olival intensivo afecta água consumida em Ferreira do Alentejo

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Uso excessivo de fertilizantes e insecticidas está a contaminar águas subterrâneas Foto: Miguel Manso

De acordo com a autarquia, o equipamento foi adquirido já em 2007 e resolveu "completamente" o problema. Esta afirmação, porém, é posta em causa pelos vereadores da CDU. Num comunicado divulgado no fim de Julho dizem que os eleitos do PS (força maioritária na autarquia) confirmam que a água "apresenta valores elevados de nitratos", e que a causa dessa situação "provém da instalação de grandes áreas de cultivo de olival intensivo". Referem ainda terem sido informados de que o desnitrificador "só funciona em determinadas alturas".

A contaminação dos lençóis freáticos com fitofármacos (químicos utilizados na desinfecção das plantas) e fertilizantes usados em cerca de 7000 hectares de olival intensivo e superintensivo não se circunscreve às reservas de água potável que abastecem a sede do concelho.

Quando a câmara decidiu, em Julho, cortar o fornecimento a 11 famílias que vivem em montes isolados - alegando que a água era utilizada nas regas e na criação de gado-, um dos munícipes afectados, Paulo Conde, mandou analisar a água do furo existente junto à sua casa. Os resultados foram claros, confirmando o "incumprimento" das normas em vigor e realçando a presença de nitratos acima do valor máximo admissível e a elevada percentagem de sais e de microorganismos.

O vereador Manuel dos Reis disse entretanto ao PÚBLICO que o abastecimento de água para consumo humano às famílias residentes "fora dos aglomerados urbanos e a distância considerável das redes de distribuição deve ser assegurado por meios próprios". Na sequência do corte do abastecimento à sua habitação, Paulo Conde apresentou no Tribunal Administrativo de Beja uma providência cautelar, tendo o juiz determinado a retoma do fornecimento por parte do município. No concelho de Ferreira do Alentejo existem 542 edificações rurais dispersas e sem acesso à rede pública de abastecimento de água.

A utilização de fertilizantes e fitofármacos numa vasta área dos concelhos de Ferreira do Alentejo, Beja e Serpa, onde existe um dos mais importantes aquíferos do país, está há muito condicionada por uma directiva europeia relacionada com o uso dos nitratos. A protecção assegurada por essa directiva não tem obstado, contudo, à utilização intensiva daqueles produtos, tal como se reconhece numa portaria publicada na semana passada pelo Ministério da Agricultura. O diploma refere que naquela e noutras zonas vulneráveis do país é necessário "reforçar" as medidas destinadas a "reduzir a poluição das águas causada ou induzida por nitratos de origem agrícola" e estabelece um programa de acção com essa finalidade.

Por outro lado, o Grupo de Trabalho do Olival, criado pelo Ministério da Agricultura em 2008 para estudar os efeitos da cultura intensiva de oliveiras, concluiu em 2010 pela existência de numerosos problemas com a utilização excessiva de fitofármacos e de fertilizantes nos olivais superintensivos. Também no uso de insecticidas susceptíveis de contaminar a água para consumo humano foram registados casos em que os valores são superiores às doses recomendadas. Os investigadores sugeriram então, no que se refere ao olival intensivo, a necessidade de uma opção clara "entre a racionalidade económica privada e a preservação dos bens públicos".

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