Cada freguesia de Ansião fica sem água um dia por semana a partir de hoje
Decisão draconiana da câmara é justificada com a necessidade de evitar a ruptura absoluta no fornecimento de água
A redução gradual da água disponível na captação levou a Câmara de Ansião, no distrito de Leiria, a avançar com um plano draconiano de racionalização de consumo. A partir de hoje, o município vai cortar o abastecimento, um dia por semana, a cada uma das suas oito freguesias, rotativamente. A medida apanhou de surpresa a oposição camarária.
O presidente da câmara, o social-democrata Rui Rocha, afirma que "ainda não há falta de água, mas entendemos que é chegado o momento de acautelar uma eventual ruptura generalizada no abastecimento público". O autarca refere que "o anúncio destas medidas tem muitas vezes um efeito psicológico" que, "só por si", pode induzir a redução do consumo e o aumento da reserva de água.
Em causa está a escassa pluviosidade dos últimos meses, que reduziu a captação na ribeira de Alge. Segundo Rui Rocha, a situação é "praticamente insustentável" e obriga a câmara a tomar "medidas de contingência". O presidente da Câmara de Ansião, entidade gestora do sistema de abastecimento de água, observa que, com as elevadas temperaturas que se fazem sentir, "há uma tendência para um consumo elevadíssimo de água". Daí que, para além do corte no abastecimento, entre as 8h de hoje e as 8h de amanhã na freguesia de Ansião, a sede do concelho, apele a toda a população para fazer um "consumo de água limitado ao estritamente necessário, evitando utilizações supérfluas ou adiáveis".
Rui Rocha explica que o sistema será monitorizado "24 horas por dia" e que, "a qualquer momento", poderá ser reactivado o fornecimento regular, desde que exista água nos reservatórios que o permita.
A medida adoptada pela câmara apanhou de surpresa o vereador da oposição. Contactado pelo PÚBLICO, o vereador socialista Miguel Peres disse não ter conhecimento do plano imposto pelo município. "Tivemos reunião de executivo na passada segunda-feira e nada foi abordado sobre esse tema", estranha o vereador. Miguel Peres observa que há muito se constata que a captação de água não satisfaz as necessidades do concelho. Mas entende que cortar o abastecimento durante 24 horas a cada freguesia "é uma medida drástica e bastante penalizadora para os munícipes". Recorda que, em anos anteriores, foi possível repor água nos reservatórios através de camiões-cisterna, pelo que não compreende "porque não se volta a fazer isso". Até porque "é obrigação da câmara assegurar um abastecimento de água regular aos munícipes", sublinha.
Entre a população, as opiniões dividem-se. João Albino, proprietário de uma residencial e de um restaurante, prevê que a falta de água durante 24 horas cause "grande transtorno". "Nem sei o que irei fazer, o mais provável é fechar as portas nesse dia", diz.
Proprietária de um salão de cabeleireiro na freguesia de Avelar, Margarida Gouveia desconhecia que vai haver cortes de água. "Sem água não posso trabalhar", protesta. "Cortar a água não é uma solução, devia haver alternativas."
Esta é também o entendimento de António Paz. Este munícipe considera que o anúncio de interrupção no fornecimento de água "pode ter um efeito contrário", uma vez que "pode levar as pessoas a acumular água desnecessária na véspera", o que "levará a um maior consumo". No seu caso particular, não causará transtornos, porque consome pouco e até tem outra fonte de abastecimento.
Opinião diferente tem Fernando Castela, que também é proprietário de uma residencial com restaurante. O empresário saúda a medida municipal. "Acho muito bem. Temos de ser cada vez mais racionais no consumo de água, para evitar que cheguemos ao Verão sem água, como é o caso." De qualquer forma, Fernando Castela diz-se "precavido", porque também ele não depende exclusivamente da rede pública para o abastecimento de água.