E se o roubo do Códice foi uma encomenda da Igreja para atrair turistas a Compostela?
Quando foi apanhado, em Julho, o autor do crime admitiu a culpa sozinho, mas, perante o juiz, disse que estava tudo combinado
Quase dois meses depois de recuperado pela polícia, o Códice Calixtino, roubado há um ano da catedral de Santiago de Compostela, continua a dar que falar. Antes do roubo poucos saberiam da existência, em Compostela, de um livro raro tão valioso; hoje, todos o querem ver. E a culpa é de Manuel Fernández Castiñeiras, o electricista que trabalhou mais de 25 anos na catedral e que durante 12 meses manteve a obra do século XII guardada num caixote na garagem de sua casa.
Confessou o crime, mas, ao contrário da primeira versão, em que alegou um ajuste de contas, depois de ter sido despedido, agora acusa o deão da catedral, José María Díaz, e um administrador de lhe terem encomendado o roubo, numa jogada para promover a igreja.
Verdade ou não, só na última semana, durante os oito dias em que o primeiro guia dos Caminhos de Santiago esteve exposto ao público, passaram pela catedral mais de 12 mil pessoas. A adesão do público foi tal que a exposição, pensada para apenas quatro dias, teve de ser prolongada. O próprio deão, no dia da inauguração, causou polémica quando reconheceu que "o roubo foi uma ocasião única para se saber que o Códice existe". E ainda não é desta que o Códice vai voltar para a caixa-forte da catedral, uma vez que já há nova exposição programada, desta vez no Museu da Cidade da Cultura de Galiza, onde ficará durante três meses. Até ao roubo, o Códice, por motivos de segurança, apenas tinha saído por duas ocasiões da catedral.
Foi neste sentido que, segundo o El País, o electricista apresentou a sua defesa, explicando que a ideia era que, numa data combinada, o livro voltasse ao seu lugar. Em troca, Castiñeiras receberia uma recompensa financeira e as atenções viravam-se para Compostela, que em ano de poucas celebrações ganhava isco para turistas. No entanto, numa entrevista ao programa televisivo Vía V, o juiz José Taín, responsável pelo caso, explicou que a investigação ainda está a decorrer e ainda estão, por isso, a ser estudadas todas as possibilidades, "mesmo as mais absurdas".
Fontes próximas da investigação disseram ao El País que as alegações do electricista não devem ter grande influência na investigação, sendo difícil de provar a existência de um pacto. Já pessoas próximas do electricista lembraram ao jornal espanhol que Castiñeiras sempre manteve uma relação próxima com os responsáveis da igreja e foi sempre muito religioso. Suspeitam que têm existido pressões para que não espere pelo julgamento em liberdade, evitando que possa apontar ainda mais culpados.