Vou a caminho, impressione-me!

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Na página anterior, José Diogo Vieira, que entrou no filme Ao Serviço de Sua Majestade CARLA ROSADO

Bem-vindos. Neste hotel todos os desejos são ordens. Não há excêntricos, não há excessos, não se discutem preços. Há fogo-de-artifício, reis, bolos intercontinentais, espiões e fantasmas. E há histórias, de Bond a Beatriz Costa, que ficam entre quatro paredes.

Para o hóspede comum, um quarto de hotel é uma fuga à rotina. Mas neste hotel, e podemos chamar-lhe Hotel Babilónia pelas diversas geografias e origens que aqui se cruzam, tudo é possível. Porque é um hotel feito de histórias, personagens e curiosidades de quartos portugueses de Norte a Sul. Pedimos licença para entrar e soprámos o pó das histórias. Descobrimos milionários excêntricos - ou talvez não, afinal o seu dia-a-dia é vivido segundo outros padrões e ritmos -, actrizes de gostos frugais, empregados feitos estrelas de Hollywood, figuras maiores do que a dimensão terrena.

Os livros de honra dos hotéis portugueses estão repletos de nomes sonantes - e de muitos deles não se chega a conhecer os caprichos, porque há um zelo colectivo de protecção dos seus hóspedes. Isso faz parte do código e da distinção do serviço que oferecem. Ninguém viu, ninguém sabe, ninguém fala.

Temos a chave. Em que quarto pretende ficar?

Suite 516 Hotel Palácio Estoril

"My name is Bond, James Bond." A célebre frase ouviu-se no Estoril e arredores. Corria o ano de 1968 e o actor e modelo australiano, praticamente desconhecido, George Lazenby foi o protagonista de Ao Serviço de Sua Majestade, sucedendo a Sean Connery no papel do agente 007. Quando o filme se estreou no ano seguinte, no Cinema S. José em Cascais, na última fila - a mais barata de todas -, José Diogo Vieira assistia ao seu desempenho no ecrã. Ele era o jovem concierge que entrega as chaves do quarto a Bond.

O curto papel valeu-lhe na altura "1750 escudos, mais do que um bom salário de um funcionário de um banco", recorda. Repetiu a cena "três ou quatro vezes" no cenário improvisado junto ao bar, antes de Bond seguir para o elevador e subir para a suite, de onde olha a piscina de soslaio. José Diogo Vieira tinha tanto de bem parecido quanto de discreto e não se fez valer deste papel para nada na vida, "nem com as raparigas era assunto de conversa", garante. De tal forma, que só "40 anos depois decidiu comprar o filme para ter em casa".

De fato igualmente impecável, como no filme do agente secreto mais famoso do mundo, cabelo branco e um discurso fluido, que chega a ser mais rápido do que os seus próprios pensamentos, é, aos 62 anos, o segundo funcionário mais antigo do Hotel Palácio Estoril. E tem orgulho nisso. Lembra-se bem do glamour da festa dos milionários organizadas por Antenor Patiño, o magnata do cobre boliviano, no mesmo ano da gravação, em que viu desfilar pelos tapetes persas do hotel estrelas de Hollywood, a aristocracia e a alta-finança mundial. Gina Lollobrigida - a quem foi "entregar um ramo de flores" ao quarto 51 -, Zsa Zsa Gabor - a quem teve que pedir para "abrir a mala e retirar as toalhas bordadas do hotel que levava consigo" -, Audrey Hepburn, Pierre Cardin, o patrão da indústria automóvel Henry Ford II, Aga Khan e os Rockefellers e Rothschilds deste mundo. Quando ouvimos José Diogo Vieira reconhecemos-lhe a pose de artista, como Bond, sabe seduzir com as palavras.

Recuperamos o momento da filmagem num sofá ao lado do bar, outrora ninho de espionagem internacional durante a II Guerra Mundial. Foi aqui que Ian Fleming, alojado no Hotel Palácio em 1941, se inspirou e criou o agente 007, James Bond, a partir da figura do espião de origem jugoslava Dusko Popov, e escreveu Casino Royale. O director-geral do hotel, Francisco Corrêa de Barros, não resiste a uma boa história de espiões. Esta casa fica-lhe a matar. "Popov, snob e bem parecido, a quem chamavam "triciclo" por se fazer acompanhar sempre de três mulheres lindíssimas - daí nasce a figura da Bond Girl - era um dos espiões mais temidos na época."

Spa Suite 610 Vila Vita Parc

São 11h30 da manhã, o toque do telemóvel bem podia ser uma sirene de emergência. "Francisco, chego daqui por umas horas. Vou querer um jantar exclusivo no vosso melhor restaurante. Ah, e fogo-de-artifício". Desligou. O "senhor X" - chamemos-lhe assim - sabe que nunca ouvirá um "não é possível" do outro lado da linha. Francisco Fragoso, 37 anos, há-de mover montanhas para concretizar os seus desejos. Essa é a missão da equipa de Hospitality do Vila Vita Parc, no Algarve. Em dia de descanso do pessoal do restaurante Ocean, foi preciso chamar o chef Hans Neuner, duas estrelas Michelin, para preparar um banquete para o casal, o filho de 14 anos e um amigo. E que dizer de todas as autorizações necessárias para o espectáculo de fogo-de-artifício do jardim? Bombeiros, Protecção Civil... Francisco passou as passas do Algarve, mas conseguiu. "Ah, e vamos querer um mágico", lembrou-se o senhor X quando desembarcou do seu jacto privado. Claro, é só tirar da cartola.

O hóspede russo é habituée do hotel, mas com ele não há rotinas. Avisa da sua chegada em cima da hora, excepcionalmente, com um ou dois dias de antecedência. "Vou a caminho, impressione-me" - é assim que gosta de se fazer anunciar. Fica sempre na mesma suite, o que levanta algumas questões logísticas quando o quarto está ocupado...

Não se demora mais do que dois dias no Algarve, mas a família fica um mês inteiro. Desde que em 2004 levou o filho ao parque Zoomarine para nadar com os golfinhos percebeu como aqueles animais poderiam ter um papel terapêutico. Nos dois primeiros anos fez-se acompanhar de todo um aparato de segurança, mas desde 2006 dispensa guarda-costas e motorista e requisitou apenas os serviços de Francisco Fragoso. "O meu dia passa a ter 26 horas, perco peso, tudo gira em volta deste cliente", conta o mordomo. "É uma pessoa exigente, mas cordial, e convida-nos a sentar-nos à sua mesa e a beber com ele um vinho de quatro mil euros".

No luxuoso Vila Vita há outros hóspedes igualmente imprevisíveis. Como o escocês que ficou alojado no hotel durante quase dois anos consecutivos e a quem um dia apeteceu "um cheesecake de uma pastelaria famosa em Nova Iorque". Um funcionário embarcou no voo seguinte ao pedido para ir buscar o bolo. Soube-lhe pela vida. Repetiu o pedido noutra ocasião. Ou ainda o hóspede inglês com a mania da perseguição, que numa ida ao Casino de Vilamoura "para passar despercebido, comprou todas as flores a um marroquino e pagou-lhe cem euros para trocarem de roupa e o homem seguir no seu carro com o motorista, enquanto ele, assim camuflado entrava na sala de jogo".

Quarto 600 Tivoli Lisboa

"Oh, filho." Era assim que Beatriz Costa se dirigia a Alfredo Igrejas. Hoje com 64 anos, lembra-se bem dos tempos em que era moço de recados à porta do Tivoli Lisboa e a artista "sempre muito bem arranjada" se-lhe dirigia. Quando aqui começou a trabalhar, já a "menina da franja", que protagonizou A Canção de Lisboa (1933)e Aldeia da Roupa Branca (1939), vivia no hotel há uma década. Esta era a sua casa. "Mais do que uma cliente era família, interessava-se por nós. Se alguém estava doente ligava para o hospital para garantir que teria o melhor acompanhamento, tentava ajudar no que podia", recorda.

O quarto 600 era a sua morada, onde só a Conceição, uma empregada da época, que a acompanhou sempre, estava autorizada a entrar. "A dona Beatriz gostava muito dela." Conceição já não trabalha no hotel. De resto, Alfredo Igrejas é o único funcionário da velha guarda. Homem discreto, não gosta de partilhar memórias por "respeito à privacidade dos clientes". Mas recorda que a partir dos anos 1960, quando passou a haver mulheres a trabalhar na recepção, a actriz - "que pagava semanalmente" - só admitia acertar contas com homens. Fiel aos Tivolis, frequentava assiduamente o luxuoso Palácio de Seteais, na vila de Sintra, e rendia-se aos cozinhados do chef francês Valier, de tal forma que no livro Mulher Sem Fronteiras (Publicações Europa-América, 1981) escreveu: "Fazia-se a viagem por aquele Coq-au-Vin e pela sopa de cebola gratinada! Grande cozinha francesa! Come-se e não se aumenta um grama!". Alfredo Igrejas tem um exemplar assinado pela diva da revista a 27 de Junho de 1981. E guarda outro tesouro... "Ela fazia o seu retrato em pedras, desenhava-se e assinava. De vez em quando oferecia-nos." O actual chefe de vendas do grupo Tivoli guarda a sua religiosamente, no verso diz: "Pedra da sorte. BC 1989". É a cara dela.

Beatriz Costa era mulher de hábitos. "O pequeno-almoço era sempre servido no quarto pelas 9h30 ou 10h. Pelas 11h, descia e sentava-se no sofá da esquina. Ia pouco ao bar, só para beber uma água." Durante a II Guerra, o bar "era um local famoso", onde se cruzavam os Aliados e o Eixo e se discutiam estratégias. Hoje já não existe."

Ela escrevia e pintava nos seus aposentos, entregue a conflitos interiores. Passava os dias assim, quando não tinha espectáculo e não estava a viajar, o que acontecia a maior parte do tempo, privando com ilustres, como Salvador Dali, Pablo Picasso, Greta Garbo, Sophia Loren ou Édith Piaf. "Quando ia viajar ficava sempre nervosa e levantava-se cedíssimo. Se a saída estava marcada para as 7h, às 4h já tinha descido e ficava à porta, à conversa connosco." É essa descontracção que Alfredo Igrejas mais recorda, a artista que "se apresentava sempre impecavelmente arranjada e muito bem pintada" e que carinhosamente se lhe dirigia com um "Oh, filho". Que diria ela aos senhores da troika que actualmente aqui se instalam nas deslocações a Lisboa?

Beatriz Costa morreu a 15 de Abril de 1996, aos 88 anos, no quarto do hotel que foi a sua casa durante mais de 40 anos.

Royal Suite Jóia Vila Joya

"É a suite mais sexy." Disso o director geral do Vila Joya, Gebhard Shachermayer, não tem dúvidas. Pelo menos é a que tem a melhor vista. Espaçosa - 120 metros quadrados -, tem dois terraços e dois jacuzzi, um interior e outro exterior. E tem uma decoração personalizada, já que a hóspede que a ocupa na maior parte do ano tem as suas próprias mobílias e pertences pessoais - equipamento de ginásio e roupa - que implanta no quarto. Sempre que chega - em vez de malas, traz tudo embalado em sacos de plástico - o quarto transforma-se a seu gosto.

Ao todo são 17 semanas de férias, exactamente 119 dias, quase quatro meses a desfrutar do sol do Algarve numa casa feita boutique resort de cinco estrelas. O ritual repete-se há dez anos com uma precisão cirúrgica. Suíços, ele terá uns 85 anos a pedir cuidados redobrados de saúde, ela 60 e não lhe falta vitalidade nem caprichos. A cada ano "chegam por fax ou email todas as alterações que pretendem".

Os hábitos dos dois bons amigos que viajam juntos e dormem em quartos separados vêm de longe. Apesar de a lista de pedidos "aumentar a cada dia", garante o director, que sabe que ao mínimo incómodo o seu telefone vai tocar e o que ouve a seguir não é simpático. Durante a estadia, apenas uma funcionária é autorizada a fazer a limpeza da suite, sem direito a dia de descanso; não podem faltar as flores frescas, de preferência rosas vermelhas; na lista de canais de televisão do quarto estes são escolhidos um a um e a selecção é, no mínimo, "invulgar"; na sala de pequeno-almoço há caixas de cereais trazidas da Suíça só acessíveis pela hóspede, que leva consigo uma pequena chave; dia em que Dieter Koschina esteja de folga, ela não frequenta o restaurante e mesmo durante o Festival Tribute to Claudia [Jung, fundadora do hotel que é homenageada com este evento], que reúne a nata dos chefs Michelin com menus de degustação previamente estabelecidos, a exigente hóspede requista imperiosamente três a quatro pratos preparados pelo próprio Koschina em exclusivo para eles; e se alguém fuma em qualquer parte da propriedade estando no raio de visão da hóspede é escândalo certo. Ninguém respira à sua passagem. "Não é uma pessoa fácil", diz o responsável do Vila Joya. E, no entanto, o amigo é uma pessoa "simples, para quem está sempre tudo bem". Feitas as contas, para ela também, ou não teriam as férias planeadas e reserva feita, sempre nos mesmos quartos, até... 2021.

Suite 102 Hotel Infante de Sagres

Todos os que se cruzaram com ele coincidiram: "afável, delicado, discreto, uma pessoa bonita em todas as dimensões". O homem de rosto iluminado e vestes cor de açafrão e paprica deixou uma marca indelével à sua passagem nos dois dias que esteve no hotel do Porto, aquando da sua primeira visita a Portugal em 2001. Sua Santidade Tenzin Gyatso, 14.º Dalai Lama, Prémio Nobel da Paz em 1989, ficou hospedado no Hotel Infante de Sagres - na época, a unidade hoteleira ainda não integrava o grupo Lágrimas, mas muitos dos funcionários transitaram para a equipa actual.

Miguel Júdice, presidente do grupo, reconhece que esta é a "figura mais marcante" que passou pelo Infante de Sagres e que toda a gente recorda. O líder espiritual e político do povo tibetano tirou fotografias com os funcionários e manteve-se fiel à sua política do sorriso. Chegou acompanhado "por um cozinheiro que preparava as suas refeições vegetarianas" e a maior surpresa foi quando no dia seguinte à sua primeira pernoita, "quando foram arrumar o quarto, a cama não estava desfeita porque dormira no chão". A suite 102 serviu-lhe de tecto para meditar.

Suite Casa de Chá, Lawrence"s Hotel

O nome é tão curioso que quase nos parece provável que o chapeleiro louco de Alice no País das Maravilhas entre nos aposentos à hora do chá. Mas o serviço só acontece quando solicitado. Entre as décadas de 1940 e 60 existiu neste lugar, onde hoje se refugiam enamorados para fins-de-semana românticos a evocar a poesia de Byron e a prosa de Eça ou Ramalho Ortigão, que tão bem conheceram o velho Lawrence.

Ora era daqui que fugia o cheiro dos pastéis de feijão acabados de confeccionar e que depressa ganharam fama. O Lawrence, que se apresenta como "o mais antigo hotel da Península Ibérica" (1764), fechou portas em 1961 para reabrir em 1999 por iniciativa de um casal holandês apaixonado por Portugal. Os funcionários de antigamente seguiram para outras paragens. Consta que foi assim que o autor da receita dos pastéis se mudou para Torres Vedras e aí ganharam fama. A ser verdade, os célebres pastéis de feijão de Torres Vedras são conterrâneos dos travesseiros e originários de Sintra, do Lawrence"s.

Moradia não identificada, Vale de Lobo

É como se chegássemos de olhos vendados. A vegetação frondosa esconde a moradia e a sua localização exacta vai continuar em segredo. Já assim, é preciso que a segurança esteja atenta aos paparazzi. Quando os Beckham se instalaram no resort do Algarve durante o estágio da selecção inglesa, foi preciso passar a pente fino tudo nos arredores. "E ainda se encontraram câmaras instaladas nas árvores", diz Alda Filipe, directora de marketing do Vale de Lobo, no Algarve.

O rigoroso controlo da segurança e a antecipação de todos os cenários conseguiu evitar a devassa da vida dos mediáticos Victoria e David. É por isso que, à beira de cumprir 50 anos, "Vale de Lobo continua a ser um local de eleição", acredita a responsável. Era assim no tempo de Audrey Hepburn, continua a ser com estrelas como os actores Hugh Grant, Jason Isaacs, com o cantor George Michael, a bailarina russa Anastasia Volochkova ou os galácticos José Mourinho e Cristiano Ronaldo.

David e Victoria instalaram-se na moradia de cinco quartos, com vista golfe e mar e vegetação densa em volta. A Spice Girl era "muito específica na comida, sobretudo o ponto de cozedura dos legumes, que aprovou no primeiro dia e que tivemos de reproduzir correctamente". De resto, não foram de grandes exigências, apenas algumas surpresas. Como no dia em que decidiram oferecer um barbecue para dez amigos e "dez minutos antes do início da chegada dos convidados, informaram que afinal eram... 25". O nervosismo do pessoal é momentâneo e não chega a transparecer, tudo se resolve. A responsável não estranha a discrição dos clientes: "Aqui o vedetismo passa despercebido, porque todos os hóspedes são importantes".

O jardim da Quinta das Lágrimas

Deixamos os quartos do hotel para passear num dos mais românticos jardins de Portugal: o do hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Esperamos pelo cair da noite - todas as histórias de fantasma ganham outra credibilidade quando contadas ao crepúsculo - para deixar que Inês venha ao nosso encontro.

Na margem esquerda do Rio Mondego, estamos no palco de um amor proibido, entre D. Pedro I, herdeiro do trono, e Inês de Castro, uma aia da corte; e de um crime em nome da coroa. Reza a lenda que foi aqui que a donzela chorou pela última vez antes de ser trespassada pelos punhais dos carrascos por ordem do rei D. Afonso IV. O seu sangue nunca desapareceu do fundo da Fonte das Lágrimas.

Miguel Júdice, presidente do grupo Lágrimas Hotels, cresceu "a ouvir estas histórias". É como uma herança: "Inês é a nossa ninfa das águas, é quase da família". E apesar da maioria ser "pró-Inês", não esquece as palavras de um tio que sempre sublinhou "temos tanto parte da vítima como do assassino, não podemos tomar posição".

Voltamos ao jardim. Já é noite cerrada. A luz ténue esculpe sombras entre as árvores centenárias e alimenta a imaginação.

As filhas do Mondego a morte escura

Longo tempo chorando memoraram,

E, por memória eterna, em fonte pura

As lágrimas choradas transformaram.

O nome lhe puseram, que inda dura,

Doa amores de Inês, que ali passaram.

Vede que fresca fonte rega as flores,

Que lágrimas são a

água e o nome Amores

Estância 135, Canto III,

Os Lusíadas

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