Académicos crêem que fim da RTP2 poderá ser negativo
O fecho da RTP2 é para os especialistas um processo “delicado”. Para o professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH –UNL), Francisco Cádima, este canal é o que “mais se aproxima de um conceito de serviço público” e o seu fecho pode ser “negativo para os portugueses em geral”. No entanto, o académico reconhece que a RTP “está a ser muito gastadora sem ter uma oferta que os portugueses reconheçam como cumpridora da sua missão”. Francisco Cádima é da opinião que “as condições do mercado” não são propícias à existência dos dois canais, afirmando-se apologista de uma “fusão entre a RTP1 e RTP2” que cumprisse os requisitos de serviço público.
Já Sara Pereira, docente da Universidade do Minho e investigadora na área da televisão, acredita que deste processo “pode resultar um empobrecimento do serviço público”, sendo que os mais afectados serão “as populações mais pobres que ainda têm uma oferta reduzida”. “Estando concessionado (o primeiro canal) não se mantém os princípios de um serviço público de televisão”, sublinha.
Já Francisco Cádima é altamente crítico do serviço conferido pela RTP. Para o docente da FCSH –UNL, a RTP “nunca foi adequada prestadora de serviço público em Portugal”, sendo que sofre tentativas de “instrumentalização” por parte do Estado. O académico, que diz “não ter nada contra a concessão”, não acredita que este seja o modelo final, já que não é o que está previsto no programa do PSD.
Opinião diferente tem Sara Pereira que não vê um bom horizonte neste processo. De acordo com a professora da Universidade do Minho, o governo não ouve os investigadores nacionais que têm vários estudos sobre o serviço público que foram, aliás, “financiados pelo Estado”. A investigadora vê consequências nefastas no ponto final que o Governo pretende por à RTP. O serviço público “ficará a perder com o fecho da RTP2”, até pelo seu “conteúdo cultural”, diz.
Relativamente à imiscuição de dinheiros públicos nos conteúdos noticiosos feitos no estrangeiro, os dois académicos têm opiniões divergentes. Cádima diz que, a nível europeu, há o impedimentos à entrada de dinheiros públicos no mercado da internet – onde têm sido realizados estes estudos – “como lhes apetece”. Já Sara Pereira ressalva que se coloca “a importância de um serviço público de televisão” e estabelece um paralelo com o caso português. “Não é por aí que nós estamos a ir”, remata.