O teste do tempo na Sight & Sound e o cinema português

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Juventude em Marcha, de Pedro Costa, é o melhor classificado DR

A lista da revista do British Film Institute mostra que os realizadores portugueses não vivem isolados

Enquanto a nova edição impressa da Sight & Sound começa a chegar a Portugal, a revista do British Film Institute mantém disponível online a lista dos 250 melhores filmes da história do cinema escolhidos pelos críticos, numa votação actualizada uma vez por década.

Em breve, serão divulgadas as escolhas pessoais de vários cineastas, entre os quais Manoel de Oliveira, cuja primeira preferência vai para Gertrud (1964), de Carl Dreyer, realizador dinamarquês que exerceu uma influência primordial no seu trabalho. Além de outro Dreyer (A Paixão de Joana d"Arc, 1928), a sua lista conta ainda com Robert Bresson (Amor e Morte/Mouchette, 1967), John Ford (O Denunciante, 1935), Jacques Tati (Playtime, 1967), Kenji Mizoguchi (Contos da Lua Vaga, 1953), Charlie Chaplin (A Quimera do Ouro, 1925) e Roberto Rossellini (Viagem em Itália, 1954). Curiosamente, as preferências pessoais de Oliveira acabam por recair em cineastas que também podemos ver próximos de um outro português - aquele que detém o filme português com mais votos (em 235.º lugar): Pedro Costa e Juventude em Marcha (2006).

O facto de o cinema de Oliveira ser distinto do de Costa não invalida, portanto, a existência de influências comuns. Mas o exercício da publicação inglesa mostra, sobretudo, que o cinema português se encontra positivamente alinhado com a história do cinema e aberto à sua diversidade de autores e filmes, contrariando uma certa imagem que ainda possa existir de que há um "isolamento" e de que não corresponde às expectativas de quem o vê.

Mas o facto de o filme português mais votado ser uma obra com apenas seis anos, numa lista cujos filmes remontam às origens do cinema, acaba por ser das suas principais notas de destaque. Costa, tal como Oliveira, é reconhecido como um dos realizadores mais significativos da história do cinema - sendo que cada um é imediatamente identificável pelas suas obras (pois contêm o seu mundo) e regido por uma visão concreta do que significa fazer um filme e traduzir a vida numa tela. São aclamados pelos seus admiradores, portanto, como os últimos representantes de culto de um cinema que está longe de artifícios contemporâneos e que é conhecedor da sua história (Oliveira e Dreyer, Costa e Ozu, outro cineasta muito presente na votação).

É também um autor próximo de Oliveira - Camilo Castelo Branco, várias vezes retratado e adaptado no cinema do realizador português - que surge como autor original da produção portuguesa mais recente da lista Sight & Sound: "Mistérios de Lisboa" (2010), do realizador chileno Raúl Ruiz. Por outro lado, João César Monteiro, talvez o realizador português mais influente na mais recente geração do cinema português reconhecida a nível internacional (Miguel Gomes ou João Nicolau), ocupa um lugar mais discreto. Quando o teste do tempo se exercer sobre esses novos autores, talvez lhe seja também reconhecida a sua devida importância.

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