Reserva da Faia Brava quer crescer e criar "economias verdes" no Nordeste

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A Faia Brava nasceu para proteger duas espécies, o abutre-do-egipto e a águia-de-bonelli paulo pimenta

A única reserva privada integrada na Rede Nacional de Áreas Protegidas quer passar para 2500 hectares, e levar o seu modelo de gestão para áreas do Estado

A Reserva da Faia Brava, no coração do Vale do Côa, continua a ser em Portugal o único parque natural de iniciativa privada que o Estado integrou na Rede Nacional de Áreas Protegidas. A Associação Transumância e Natureza (ATN) gere já cerca 800 hectares de propriedades privadas mas quer alargar a sua área de influência até aos 2500 hectares, para mostrar que o projecto funciona a uma escala maior, e para poder replicá-lo noutras áreas do Nordeste português e impulsionar iniciativas semelhantes no território lusitano.

A Faia Brava viu o valor do seu projecto reconhecido pelo Estado em 2010, depois de garantido o cumprimento de uma série de objectivos estabelecidos previamente com a tutela do Ambiente. À data, geria 600 hectares, um número que entretanto cresceu para os 800, distribuídos ao longo de cinco quilómetros do rio Côa, nas freguesias de Algodres e Vale de Afonsinho (Figueira de Castelo Rodrigo) e Cidadelhe (Pinhel). Alice Gama, bióloga e coordenadora da equipa técnica da ATN, explica que a associação quer, em cinco anos, "chegar aos 2500 hectares, o que torna muito mais fácil mostrar a toda a gente que o projecto resulta" - e até para abrir caminho para outras candidaturas de privados, algumas delas já a ser avaliadas pelo Estado e que têm apoio firme da ATN.

Mas também esta associação quer estender a sua actividade para lá do vale do Côa, noutras áreas do Nordeste, com o objectivo de criar zonas protegidas "em que a gestão sustentável vá além da natureza e faça também crescer a economia das regiões". A ATN gostaria, por exemplo, de levar o seu modelo para o Parque Natural do Douro Internacional, que é gerido pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). Nos planos da associação estão também áreas junto ao rio Sabor e ao Maçãs (seu afluente) e à ribeira das Cabras (afluente do Côa).

A operacionalização da reserva cifra-se numa verba que ronda os 100 mil euros anuais, um orçamento que varia de acordo com os investimentos por parte da associação na aquisição de novas propriedades. Alice Gama explica que para este total contribuem várias parcelas, desde a quota anual de 20 euros paga pelos actuais 370 sócios da ATN até aos subsídios estatais que recebem por serem também proprietários agrícolas.

No entanto, grande parte das verbas que constituem o orçamento anual da associação provém de mecenato e de programas agrícolas e ecológicos, nacionais e internacionais. "Os apoios são principalmente estrangeiros", nota Alice Gama, justificando-o com as parcerias com projectos semelhantes espalhados pela Europa e pelo próprio estatuto único do projecto, que acaba por garantir visibilidade e uma simpatia especial pela Faia Brava. Esta forma de financiamento é uma pirâmide que a ATN quer inverter. A associação quer tornar-se auto-sustentável e independente do financiamento externo, sendo que, para isso, há que "pôr a Faia Brava a render" - especialmente através da venda de produtos e serviços, entre os quais se destacam o azeite biológico de produção local e a crescente aposta na promoção turística da reserva.

Doze anos de vitórias

A sustentabilidade financeira da reserva é, juntamente com a réplica do projecto noutros locais, uma das três principais metas que a associação definiu para o futuro do projecto. A última é a implementação do Rewilding Europe, um programa que partiu da secção holandesa da World Wildlife Fund e que visa a reflorestação europeia, propondo-se a revitalizar um milhão de hectares até 2020. A ideia é aproveitar espaços agrícolas abandonados para tornar a Europa mais verde, de modo a facilitar a preservação e propagação da vida selvagem no velho continente.

Este é um trabalho que, bem vistas as coisas, a ATN já tem vindo a desenvolver desde o início do projecto, em 2000, pois na sua génese esteve a conservação de duas espécies de aves rupículas: o abutre-do-egipto e a águia-de-bonelli. Durante os três primeiros anos de actividade, a ATN concentrou os seus esforços na protecção destes espécimes (para os quais as escarpas do Vale do Côa servem como local ideal para pousar e nidificar) adquirindo terrenos importantes, gerando um sistema de alimentação artificial e desenvolvendo várias acções de sensibilização junto da população local.

Em 2003, um incêndio lavrou na área da Faia Brava durante 15 dias, queimando mais de 1500 hectares inseridos na já protegida Zona de Protecção Especial do Vale do Côa e vitimando mais de um terço dos sobreiros cinquentenários que ali se encontravam enraizados. No seguimento do fogo, a associação decidiu também avançar com uma campanha de vigilância contra os incêndios em nome próprio (ver caixa), que decorre desde 2004, independentemente das dificuldades em reunir os meios económicos necessários para a pagar.

Foi também a partir do trágico incêndio que a associação alargou horizonte: além da protecção da fauna, a ATN começou a dedicar maior atenção à gestão e protecção florestal, assim como à recuperação do património rural. Actualmente, a ATN é responsável, por exemplo, pela plantação de mais de 25 mil árvores autóctones e pelo semeio de quase 500 mil bolotas.

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