Ataques contra imigrantes na Grécia estão a ficar cada vez mais violentos

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Os imigrantes na Grécia estão a sofrer da pior maneira os efeitos da crise John Kolesidis/Reuters (arquivo)

O aumento da violência ocorre numa altura em que as autoridades levam a cabo uma operação chamada (com ironia?) Xenios Zeus, a expressão que sublinha a faceta de hospitalidade de Zeus, em que foram detidos mais de 7000 imigrantes e presos 1600 que, segundo as autoridades, deverão ser deportados.

Há quem veja nesta operação a tentativa do Governo liderado pelo conservador Antonis Samaras chegar aos eleitores descontentes que votaram no partido de extrema-direita, neonazi, Aurora Dourada, cujos membros são suspeitos nestes crimes contra imigrantes.

"Primeiro começaram os ataques verbais, depois vieram as barras de ferro e agora estão a aparecer as facas", disse Javied Aslam, líder de uma organização de imigrantes paquistaneses e presidente da Associação de Trabalhadores Migrantes, citado pela agência Reuters.

Nos últimos seis meses foram atacados pelo menos 500 imigrantes, disse Aslam, que trabalha como intérprete nos hospitais. Nas últimas três semanas, 20 foram hospitalizados por terem sido esfaqueados.

E Javied Aslam faz a ligação com as operações levadas a cabo pelas autoridades que têm como alvo os imigrantes e o aumento da violência: as acções da polícia ainda encorajam mais acções de grupos de cidadãos armados. "Há claramente responsabilidade do Governo", acusou.

A operação Xenios Zeus foi também criticada por grupos de defesa de direitos humanos como a Amnistia Internacional, que acusa as autoridades gregas de tratarem estrangeiros que respeitam a lei como criminosos e sujeitarem os detidos a "condições degradantes e desumanas".

Esta semana, morreu um tunisino de 25 anos atacado em Salónica na terça-feira, vítima de ferimentos de arma branca. Em Atenas - a dois quarteirões da Câmara Municipal - foi assassinado um iraquiano de 19 anos também com golpes de faca. Um dia depois desta morte, um gabinete do Aurora Dourada foi alvo de uma bomba incendiária.

Saiam daqui, ou então...

Há muitos imigrantes que sobrevivem para contar a agressão. Um deles é Abouzeid Mubarak, 28 anos, pai de três filhas, um pescador egípcio do porto de Piraeus. Numa noite especialmente quente, Mubarak foi dormir para o terraço. Acordou às 3 da manhã e viu 20 homens de T-shirts pretas. "Vi algumas pessoas - jovens, como eu. Bateram-me, e eu desmaiei." Mubarak foi agredido com bastões de madeira e barras de ferro. Outros pescadores encontraram-no numa poça de sangue e levaram-no ao hospital, achando que a qualquer momento ele ia morrer. Não morreu, mas passou semanas a recuperar. Tem o maxilar, que ficou partido, seguro por metal - fala com dificuldade e tem de comer por uma palhinha.

Mubarak faz parte de uma comunidade de pescadores egípcios há muito estabelecida em Piraeus, o principal porto de Atenas. Todos se sentem agora ameaçados pela onda de violência. Os principais suspeitos são membros do partido de extrema-direita Aurora Dourada, cujos elementos deixaram folhetos aos imigrantes na zona dando-lhes um prazo para sair, "ou então..."

O Aurora Dourada chegou ao Parlamento nas últimas eleições, em Junho, com 6,9% dos votos e 18 deputados (em 300). Apesar de, durante a campanha, o seu porta-voz, Ilias Kasidiaris, ter agredido uma deputada durante uma emissão televisiva. Procurado pelas autoridades, Kasidiaris desapareceu durante uns tempos, mas já regressou. Ainda recentemente, estava numa acção em que elementos do partido ofereceram comida na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento, em Atenas. "Damos comida produzida na Grécia apenas a cidadãos gregos", anunciou Kasidiaris. Para levar um saco com fruta, vegetais e massa, as pessoas mostravam os bilhetes de identidade para provar a nacionalidade.

"Este partido tem um forte elemento hooligan e ainda ligações ao submundo criminal", acusa o presidente da Câmara de Salónica, Yiannis Boutaris, citado pela revista britânica The Economist. Boutaris tinha sido criticado pelos membros do Aurora Dourada por ter apoiado a primeira marcha do orgulho gay na cidade.

Grupos de direitos humanos dizem que depois de terem obtido bons resultados nas eleições, os membros do partido se tornaram mais ousados, com ataques contra imigrantes a ocorrerem quase diariamente, alguns em plena luz do dia.

A responsável da Human Rights Watch Judith Sunderland falou da sua surpresa com o panorama na Grécia. "Todos os dias ficava chocada com as histórias que ouvíamos e o sofrimento que encontrávamos", contou. "Não fazíamos ideia da escala. Parece ser realmente um fenómeno diário".

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