Sylvester Stallone insiste no seu projecto de reunião de heróis de acção envelhecidos e/ou fora de moda. O primeiro Os Mercenários, realizado pelo próprio Stallone e estreado há dois anos, não era nada mau, e podia (e devia) ser levado minimamente a sério. Para a sequela (e já se anuncia um terceiro episódio), Stallone cedeu as tarefas de realização a Simon West mas não abdicou de um carimbo autoral (co-assina o argumento) nem, naturalmente, de se manter como protagonista, líder do grupo de mercenários a que o título original chama, de modo mais significativo do que o título português, os expendables. A colecção de velhas glórias, em relação ao primeiro filme, está agora mais completa: perderam-se Mickey Rourke e Eric Roberts, mas aparecem Chuck Norris e Jean-Claude van Damme, juntando-se a Stallone, Bruce Willis, Dolph Lundgren, Jet Li e Arnold Schwarzenegger (que tem muito mais screen time do que no primeiro episódio, onde se limitava a uma cena, aliás muito divertida).
Parece um museu, portanto. E tão evidentemente parece um museu que nem às personagens escapa - “devíamos estar num museu”, diz alguém durante o dénouement. E já estão, o museu é o filme, ou pelo menos a vitrine do museu onde se expõem todas estas relíquias dos anos 80, traídas pela idade e pela mudança dos gostos do público. Inevitavelmente, e embora mantenha as características do original (muitas cenas de acção, mas secundarizadas face ao trabalho sobre o carisma de actores e personagens, com relacionamentos e diálogos que emulam muito bem o espírito old school da antiga maneira americana), Os Mercenários 2 parece menos fresco do que o primeiro filme. Há mais gente a exibir-se, tipo guest star, como se estivesse permanentemente a piscar o olho ao espectador (caso, sobretudo, de Schwarzie, que cita e faz citar incontáveis alusões ao Exterminador Implacável).
A melancolia do primeiro Mercenários, em que se podia genuinamente acreditar, cede terreno a uma certa fanfarronice - pois se o primeiro filme foi um sucesso esta gente aparece aqui com outro espírito, menos loser e um pouco mais gabarola. Ainda é divertido, ainda é para levar minimamente a sério (não pela “narrativa”, claro, antes pelo statement subjacente ao projecto). Mas sente-se a corda a esticar - mais um bocadinho e os Mercenários arriscam-se a estar num museu, sim, mas de história natural, conservados em frasquinhos de formol.