Reabriu a casa de William Morris, o homem que deu beleza às coisas úteis

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Morris morreu aos 62 anos, depois de ter trabalhado, ao longo da sua vida, "por mais de dez homens" dr

Museu londrino volta a abrir depois de ano e meio de obras que custaram dez milhões de libras. A nova exposição permanente quer chegar a toda a gente. O designer e poeta inglês ficaria contente

Foi certamente nos jardins da casa onde passou parte da adolescência e juventude, em Walthamstow, que William Morris ganhou parte do seu fascínio por árvores, plantas e pássaros. A mãe, já viúva, e os seus nove filhos mudaram-se para lá quando o filófoso, poeta e designer inglês tinha apenas 14 anos. Na altura, o edifício, que ficaria conhecido como Casa da Água por causa do fosso que o cercava, lugar de pesca no Verão e de patinagem nos invernos rigorosos, ficava no meio do campo, nos arredores de Londres. Hoje Walthamstow é um dos subúrbios da cidade, e a casa de Morris (1834-1896), nome maior do movimento Arts and Crafts, volta a atrair atenções.

Fechada ao público nos últimos 16 meses, a Casa da Água, que é desde 1950 um museu dedicado a este artista e socialista convicto, reabriu no dia 2, totalmente remodelada. O ambicioso projecto de renovação da casa onde viveu até aos 21 anos veio pôr fim à polémica que em 2007 ameaçou o futuro do museu e, segundo o diário britânico The Guardian, custou dez milhões de libras.

O edifício construído por volta de 1740, que das mãos da família Morris passou para as do editor Edward Lloyd (hoje chama-se Parque Lloyd à propriedade onde está o museu), tem agora novas salas de exposições, galerias interactivas, um centro de investigação e divulgação, e uma sala de chá com janelas abertas sobre as árvores. Esta proximidade à memória da floresta que a rodeava no século XIX teria agradado aos amigos de Morris que ajudaram a conceber e frequentavam a Red House, a mais famosa das casas deste pioneiro do design, todos eles artistas do círculo dos pré-rafaelitas. Entre estes amantes da natureza tal como a entendia a arte medieval estavam Edward Burne-Jones, o mais íntimo de Morris, William Holman Hunt, John Everett Millais e o temperamental Dante Gabriel Rossetti, todos protegidos pelo grande crítico de arte da Inglaterra vitoriana, John Ruskin.

Mas nem só de arte se fez a vida de William Morris, sempre interessado na política e, sobretudo, em espalhar princípios de democratização, extensíveis às mais variadas áreas (dizem os que mais o criticam que era fácil ser-se socialista naquela época e falar em igualdade e classe média quando se recebia uma avultada renda anual de 900 libras). Começar pelas coisas simples e utilitárias do dia-dia, lembra o britânico The Telegraph, era uma das suas estratégias, bem evidente no percurso expositivo que o museu propõe aos seus visitantes, composto por 12 salas com mais de 600 objectos, desde os seus célebres papéis de parede e tecidos, a esboços e escritos, além de obras dos amigos que muitas vezes convidava para jantar na Red House, deixando que os serões se demorassem em discussões filosóficas e em acesos debates políticos.

Muito didáctico, com galerias que recriam as instalações da sua companhia - a Morris & Co - na Oxford Street e jogos interactivos em que o visitante se pode transformar no próprio artista, experimentando as técnicas de tingimento e de impressão da época, o museu quer chegar a públicos de todas as idades e formações. Morris, muito provavelmente, teria ficado feliz, já que foi ele que escreveu: "Não quero a arte só para alguns, tal como não quero a educação só para alguns ou a liberdade só para alguns."

A firma

Chamando a atenção para a "clareza e o rigor admiráveis" com que a nova exposição permanente conta a preenchida e diversificada história da vida de Morris, Alaistair Sooke, crítico do Telegraph, elogia sobretudo a qualidade dos materiais expostos e os tecidos e papéis de parede com padrões repletos de "entrelaçados, com pássaros e folhagens rodopiantes, que haveriam de se transformar na sua imagem de marca".

Nas galerias há espaço ainda para algumas das muitas peças produzidas na Morris & Co - o designer chamava-lhe "a firma" e criou-a para tornar acessíveis à classe média objectos quotidianos bem desenhados e de qualidade (têxteis, vidros, mobiliário) -, para a única tapeçaria que desenhou sozinho, The Woodpecker, e para objectos profundamente pessoais, como a sua caneca do café, cartas que escreveu à mãe na juventude, livros que ofereceu à mulher em dia de aniversário e a sacola que nunca largava, sempre repleta de desenhos.

Uma das salas é dedicada aos artistas que influenciou, e a galeria da nova ala, junto à sala de chá, será ocupada por exposições temporárias. Foi inaugurada por um prémio Turner e num suporte que agradava a Morris - Grayson Perry, artista com estúdio em Walthamstow, criou para a inauguração uma grande tapeçaria satírica que faz uma crítica à sociedade de consumo.

William Morris, que parecia apostado em transformar o mundo através da beleza, morreu aos 62 anos, depois de ter trabalhado por mais do que dez homens ao longo da vida, disse um dos seus médicos. E deixou um recado que ficou célebre: "Não tenham nada nas vossas casas que não saibam como tornar útil ou que não acreditem ser belo."

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