Viajar de comboio com uma bicicleta é cada vez mais difícil nas linhas da CP

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Novo comboio deverá ligar Porto e Vigo em duas horas, menos 40 minutos do que actualmente Paulo Ricca

A aventura no comboio teria demorado seis horas porque era preciso apanhar quatro composições: uma de Lisboa para o Entroncamento, outra para Coimbra e novamente outro comboio para Aveiro, onde mudaria depois para um suburbano até chegar à Invicta. Tudo pela módica quantia de 18,60 euros.

Mas, quando contactou a CP por e-mail, a empresa não conseguiu assegurar-lhe que tudo correria sem problemas porque competiria ao revisor autorizar, ou não, o acesso do passageiro com a bicicleta ao comboio. Catarina despendeu assim 110 euros para viajar de carro de Lisboa para o Porto (30 pelo aluguer e 80 por deixar o veículo num destino diferente da origem).

Ana Portela, directora de Comunicação da CP, explicou ao PÚBLICO que os revisores podem, efectivamente, recusar as bicicletas nos comboios regionais, uma vez que a permissão de transporte está limitada ao espaço existente, mas que tal é raro acontecer. É o caso, por exemplo, dos encontros de cicloturistas em que existe o risco de 20 ou 30 passageiros aparecerem subitamente numa automotora com bicicletas atrás. Em circunstâncias normais, se Catarina tivesse empreendido a viagem entre Lisboa e o Porto, quase de certeza tê-la-ia feito sem problemas e sem pagar pela bicicleta.

Na reclamação que fez à transportadora pública, a técnica de análises clínicas escreveu: "fico indignada ao pensar que a CP não é amiga das bicicletas ao contrário do que faz transparecer. Pergunto: fazem o mesmo aos carrinhos de bebé que ocupam o mesmo ou mais espaço do que uma bicicleta? Também dizem à mãe que o revisor vai decidir se pode embarcar com o seu bebé?"

Mas pior do que uma regulamentação restritiva no serviço regional e suburbano (neste último as bicicletas são aceites, tal como no Metro, fora das horas de ponta), é a total impossibilidade de poder transportar os ecológicos veículos de duas rodas noutro tipo de comboios.

Com o desaparecimento dos regionais no Alentejo no último ano, deixou, simplesmente, de ser possível levar a bicicleta para esta região ou para o Algarve através do modo ferroviário.

"No ano passado comprei a bicicleta no [centro comercial] Colombo, fui num comboio da Fertagus até Setúbal, depois num regional da CP até Tunes e aí mudei para outro regional para Faro. Foi assim que a trouxe para o Algarve. E em Setúbal entrou um casal de alemães, cada um com a sua bicicleta, que iam também para o Algarve. Mas agora já não posso trazer a bicicleta para Lisboa." Manuel Fernandes é professor em Faro e costuma pedalar entre a sua casa e a universidade. Às vezes desloca-se até Lagos ou Tavira com ela nos comboios regionais algarvios. Mas só aí.

Luís Ribeiro, subdirector do jornal O Pedal, lamenta que agora não haja regionais no Alentejo porque esta região é um dos destinos preferidos dos amantes das bicicletas, além de que ficou assim cortado o acesso ao Algarve. "Sei de um amigo de Grândola que estuda em Lisboa e ia a casa aos fins-de-semana com a bicicleta no comboio e agora deixou de poder fazê-lo", contou ao PÚBLICO, referindo ainda outro caso de um colega que tentou vir do Porto para Lisboa nas mesmas circunstâncias, mas acabou por desistir. Os motivos são óbvios: ou trazia a bicicleta consigo numa viagem directa nocturna entre a 1h30 e as 5h43 da manhã, ou fá-lo-ia de dia - durante quase todo o dia - utilizando quatro comboios com transbordos em Aveiro, Coimbra e Entroncamento.

Para este designer gráfico, a solução passa por a CP permitir o acesso das bicicletas aos Intercidades, tal como acontece em alguns países da Europa onde esse tipo de comboios até tem equipamentos próprios que permite colocá-las na vertical, ocupando menos espaço.

Na geografia ferroviária, é no Centro e no Norte do país que a CP é mais amiga das bicicletas, podendo-se viajar acompanhado destes veículos em praticamente todas as linhas, nos comboios regionais. No Sul a empresa suprimiu o serviço regional em 378 quilómetros de linhas, equivalendo praticamente a todo o Alentejo. Com uma excepção: uns escassos 36 quilómetros entre Vila Nova da Baronia e Beja.

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