Quase não há festival que não tenha uma destas coisas: uma "tenda electrónica" ou um ou mais DJ populares a animar o povo noite dentro, depois dos concertos principais. Mas, em Viana do Castelo, a conversa é outra: o Neopop, que arrancou ontem com uma sessão especial e tem hoje a primeira noite nos moldes tradicionais, é um festival sem paralelo: dedica-se totalmente à música de dança. E sem concessões comerciais, fazem questão de vincar os organizadores.
"Nunca houve concorrência em Portugal. Nunca houve um evento exclusivamente dedicado a esta sonoridade. Foi algo de inédito, e que ainda hoje continua a ser o único momento do ano em que se conseguem juntar milhares de pessoas [fãs de electrónica] no mesmo espaço", diz ao PÚBLICO Nuno Branco, da Sonic Culture, parte da organização do Neopop, que acontece junto ao Forte de Santiago da Barra, na capital do Alto Minho.
Neste festival, que vai na quarta edição (enquanto Neopop, depois de uma primeira encarnação sob o nome Antipop), não cabem figuras como David Guetta ou Tiësto, parte da nova constelação de "DJ estrelas" em que a indústria musical tem apostado. "Não há nenhuma hipótese de esses nomes pertencerem a um cartaz do Neopop", garante Nuno Branco. "Seria um caminho facilitista".
Branco assume que este é um festival "de nicho", mas acredita que esse espaço "vá crescendo". "Estamos numa aventura extremamente complicada, dadas as circunstâncias que envolve fazer um festival não comercial", reconhece Ilídio Chaves, parceiro na Sonic Culture e parte habitual do cartaz do Neopop enquanto Expander (este ano não é excepção).
Como se monta o Neopop? Através da união de agentes ligados à produção de eventos de música electrónica. "Todos os produtores envolvidos têm um trabalho de cerca de dez anos", diz Nuno Branco.
A lógica colaborativa foi mais longe nesta edição. A organização convidou a produtora portuense Versus, especialista em géneros como o drum and bass (cena particularmente dinâmica no Porto), para montar uma noite de abertura especial dedicada a esse estilo e ao "cúmplice" dubstep, filões estéticos a que o Neopop costuma não prestar atenção.
No sábado, última noite de festival, o Neopop entrega a selecção musical à Red Bull Music Academy (RBMA), habituada a estas andanças (ajuda a programar festivais como o Sónar, em Barcelona, e o Mutek, em Montreal, no Canadá).
Carl Craig e Richie Hawtin
Entre outros, a RBMA convidou Moodymann, de Detroit, nome histórico do house com duas décadas de cadeira, e os Cobblestone Jazz, canadianos que usam computadores antigos e instrumentos analógicos para fazer techno adoptando uma abordagem próxima da improvisação jazzística.
Hoje, o festival tem a sua primeira noite no formato habitual e um nome incontornável no cartaz: Carl Craig, figura fulcral da segunda geração do techno de Detroit, injectou elementos do jazz e da soul na música de dança. Apresenta-se enquanto 69, projecto que em 2011 celebrou vinte anos de existência. Também hoje, o britânico James Holden, que já passou pelo Neopop em 2009, vai mostrar a sua electrónica que aprendeu as lições da IDM, do ambient, da música psicadélica e do krautrock.
Richie Hawtin, que, com Carl Craig, se destacou na segunda geração do techno de Detroit (para onde se mudou em criança), é o nome maior da noite de amanhã. Os fãs de techno estarão também expectantes por dançar ao som de Planetary Assault Systems, pseudónimo do inglês Luke Slater.
O Neopop espera ultrapassar os números de 2011, ano em que, em média, recebeu três mil pessoas por dia. E os estrangeiros podem dar uma ajuda. Nuno Branco conta que "constituiu uma grande surpresa" a quantidade de pedidos de informação sobre o festival feitos por espanhóis, ingleses e italianos.
Internacionalizar o Neopop é, aliás, uma meta para os próximos anos. "Temos um local magnífico num país magnífico, com possibilidades de alojamento e restauração que não existem nos restantes países", diz.
Um passe para os quatro dias do Neopop custa 70 euros. As noites de hoje e de sábado têm bilhetes a 25 euros, enquanto as entradas para amanhã custam 35 euros.