Misericórdia de Lisboa abandona ideia da mudança para a José Malhoa
Quatro anos depois de ter pago 32 milhões por três imóveis para aí instalar os seus serviços, por razões de segurança, a instituição desistiu da mudança e nada diz sobre os motivos nem sobre o futuro dos edificios
Ainda há dois ou três meses, o complexo adquirido pela Misericórdia de Lisboa em 2008, na Av. José Malhoa, estava rodeado de tapumes e tinha um estaleiro de obras a seu lado. Aparentemente estavam finalmente a iniciar-se as obras de adaptação da antiga sede da seguradora Bonança para ali serem instalados o Departamento de Jogos da instituição e uma grande parte dos seus serviços. De repente, o estaleiro desapareceu, sem que haja sinais de ter sido feita qualquer obra, mas nem a Misericórdia nem a empresa de construção que montou o estaleiro explicaram porquê.
No portal dos contratos públicos na Internet encontra-se, porém, o anúncio de uma adjudicação por ajuste directo e pelo valor de 200.000 euros feita em Maio deste ano à empresa Casais, a mesma que montou o estaleiro na José Malhoa e disse ao PÚBLICO não prestar quaisquer informações sobre os trabalhos ali efectuados. O anúncio publicado refere apenas que o contrato se prende com a realização de "tranbalhos" nos edifícios da Santa Casa situados na José Malhoa, 3 a 9.
O que não bate certo nesta situação é que os edifícios em causa foram comprados há quase cinco anos a uma empresa de Aprígio Santos (do clube Naval Primeiro de Maio da Figueira da Foz) com a justificação de que o prédio em que o Departamento de Jogos funciona, na Rua das Taipas, não oferecia condições de segurança e era inadiável a sua transferência. A decisão de compra foi da responsabilidade da anterior direcção da Misericórdia, presidida pelo socialista Rui Cunha, que em 2010 invocou uma auditoria da consultora British Standars Institution para a fundamentar a urgência da mudança das instalações.
De acordo com o relatório então apresentado pelos consultores, o edifício da Taipas apresentava graves problemas de estabilidade e deixara de satisfazer as normas internacionais de segurança da informação relativa aos jogos, designadamente o Euromilhões. Depois de uma prospecção ao mercado e face às três alternativas encontradas, a Misericórdia optou pelos edifícios da José Malhoa. Mediante a realização de obras de adaptação estimadas em 7,7 milhões de euros, estes poderiam acolher o Departamento de Jogos e outros serviços, com mais de 500 pessoas. Depois de sucessivos adiamentos, a data apontada em 2010 para mudança era o final de 2011.
Desde então nada aconteceu na Jose Malhoa, a não ser a montagem e desmontagem do estaleiro da Casais. Contactada insistentemente pelo PÚBLICO durante a última semana para explicar o que é que se passava com aqueles edifícios, a assessoria de imprensa da Misericórdia nada disse. Excepto que "a Santa Casa não tem quaisquer comentários a fazer sobre o assunto".
As tentativas feitas para contactar o Provedor da instituição, o social-democrata Pedro Santana Lopes, também não resultaram.
Parte da explicação sobre o que se passa com a antiga sede da Bonança foi entretanto encontrada pelo PÚBLICO no Relatório e Contas da Misericórdia de 2011, que se encontra no seu site. Sem nada mais adiantar - e sem que o assunto tenha sido objecto de divulgação pelo serviço de Comunicação e Marketing da instituição, que integra dez pessoas, ou pela agência LPM, que também lhe presta serviços - o relatório diz apenas na página 142: "Atendendo à importância e às implicações da projectada transferência para a Av. José Malhoa e reunidas as informações necessárias à Mesa, em finais de Dezembro, decidiu que esta transferência não se iria concretizar tendo o projecto sido abandonado".
Quanto ao resto, nomeadamente à segurança do prédio das Taipas, nada diz o relatório nem os responsáveis da Misericórdia.