É legítimo dizer (e até é verdade) que o francês Bruno Dumont, antigo professor de filosofia, é um dos poucos cineastas contemporâneos que pega de caras as questões da fé, do misticismo e da transcendência. É também legítimo dizer que os seus filmes tropeçam de vez em quando nas suas ambições, e se o excelente Hadewijch (2009) se esquivava a essa armadilha, Fora, Satanás parece abandonar-se-lhe com uma sisudez tão intrigante quanto maçadora. Alegoria crística de uma aridez desapaixonada e clínica, a história de um misterioso sem abrigo rural e da sua relação com uma jovem inadaptada e traumatizada constrói-se toda na cabeça do espectador, mas as questões intelectuais e teológicas que levanta esbarram na opacidade propositada do tratamento e na inexpressividade bressoniana do elenco não-profissional convocado. É como se Dumont quisesse correr ao mesmo tempo em duas direcções: não consegue, mas pelo menos tenta, e isso já é qualquer coisa.
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