O escândalo dos resultados viciados chegou ao topo da pirâmide em Itália

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Antonio Conte é acusado de omissão de denúncia, enquanto treinador do Siena, em 2010-11 MAX ROSSI/REUTERS

O passado de Antonio Conte e de dois jogadores da Juventus arrastou-os para o centro do interminável Calcio Scommesse, que ontem conheceu um novo capítulo. É mais uma forte machadada na modalidade

Continua a girar o redemoinho que tem afundado a credibilidade do futebol italiano, arrastando com ele vagas de figuras ilustres. Agora, chegou a vez de o treinador Antonio Conte, o médio Simone Pepe e o central Leonardo Bonucci enfrentarem acusações no âmbito do processo de viciação de resultados que tem causado profundo mal-estar até junto da classe política italiana.

Definitivamente, a Juventus parece incapaz de se libertar das teias da justiça. A grande protagonista do escândalo de corrupção na Série A que ficou conhecido como Calciocaos, em 2006, só na época passada resgatou o estatuto de campeã nacional, mas já vê o seu nome novamente envolvido numa nova investigação, ainda que de forma indirecta, desta vez. Conte, Pepe e Bonucci, todos campeões em 2011-12 pela Vecchia Signora, foram sugados pelo furacão, embora representassem outros emblemas na altura dos factos.

O nome do técnico italiano já tinha sido atirado para a fogueira no decurso de um interrogatório no final de Abril, quando Filippo Carobbio, treinado por Conte no Siena, em 2010-11, o acusou de estar ao corrente de tudo o que se passava: "Ele sabia das combinações [de resultados]", afirmou, segundo a Gazzetta dello Sport. Foi este depoimento que levou a procuradoria federal a debruçar-se sobre o antigo internacional italiano e a acusá-lo, agora, de omissão de denúncia.

Em causa estão os jogos Novara-Siena (2-2) e AlbinoLeffe-Siena (1-0), da segunda divisão italiana de há duas temporadas. Sob a mira das autoridades, estas duas partidas fazem parte de um leque mais extenso de resultados viciados para favorecer um esquema de apostas, num processo que ficou conhecido como Calcio Scommesse. Se se confirmar que Conte tinha conhecimento das manobras ilegais que rodearam os encontros, enfrenta uma suspensão de seis a 12 meses.

O advogado do treinador, Antonio De Renzis, não quer antecipar cenários, mas deixa duras críticas ao funcionamento do sistema: "A justiça criminal é uma coisa, a justiça desportiva é outra. O processo desportivo é um processo com inversão do ónus da prova, em que o acusado é que deve provar que o acusador está a mentir", apontou, ressalvando que as hipóteses "severas" de acusação traçadas em Cremona caíram por terra.

O que De Renzis quer dizer é que a Antonio Conte é imputado um crime menor (curiosamente, o mesmo de que é acusado Simone Pepe), quando comparado com outros protagonistas de um processo que segue já na segunda fase de investigação. A primeira, iniciada em Junho de 2011, culminou com a condenação de 15 clubes e 19 intervenientes, entre actuais e ex-jogadores. A actual parece subir de tom e de importância na pirâmide do calcio.

Selecção afectada

Em Maio de 2012, depois de descobertas ligações da rede de apostas à Europa de Leste e a Singapura, foram detidos o vice-capitão da Lazio Stefano Mauri e o ex-capitão do Génova, Omar Milanetto, mas entretanto as investigações evoluíram até colocarem sob suspeita o internacional italiano Domenico Criscito. No total, a Federação Italiana de Futebol produziu acusações contra 13 clubes e 44 elementos, com o Lecce e o Grosseto a arriscarem as penas mais pesadas, que passam pela descida de escalão.

Quanto a Leonardo Bonucci, terá de defender-se da acusação de envolvimento directo na manipulação de resultados desportivos, na condição de jogador do Bari, em 2009-10. Caso seja condenado, o defesa de 25 anos, que foi um dos pilares da selecção de Itália no Euro 2012, poderá ser banido por um período de três anos.

O escândalo, de resto, já tinha atingido a squadra azzurra na véspera do Campeonato da Europa, quando Criscito foi obrigado a abandonar o estágio de preparação. As reacções não se fizeram esperar e chegaram das mais altas esferas, com destaque para a posição do primeiro-ministro: "O futebol deveria parar durante dois ou três anos. Não é uma proposta do Governo, mas apenas um desejo que tenho como alguém que tinha paixão pelo futebol quando ainda era futebol", desafiou Mario Monti.

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