Três grupos dissidentes da Irlanda do Norte anunciam um novo IRA
O anúncio foi feito em vésperas do início dos Jogos Olímpicos em Londres e noticiado pelo Guardian. De acordo com o jornal britânico, a grupo designado por IRA Verdadeiro juntou-se à Acção Republicana Anti-droga (RAAD, na sigla em inglês) e a uma outra coligação de grupos armados independentes, deixando de fora o grupo designado por IRA Continuidade. O anúncio faz temer um regresso da violência.
“Após extensas consultas, os republicanos irlandeses e um número de organizações envolvidas em acções armadas contra as forças armadas da coroa britânica juntaram-se numa estrutura unificada, com uma única liderança, subserviente à constituição do Exército Republicano Irlandês”, lê-se no comunicado divulgado pelo Guardian. “A liderança do Exército Republicano Irlandês continua empenhada na concretização dos ideais e princípios estabelecidos na Proclamação de 1916”, adianta o documento.
Esta é a primeira vez que se verifica uma coligação das forças dissidentes do IRA desde os acordo de 1998 que pacificaram o conflito na Irlanda do Norte, sublinha o Guardian. Fontes republicanas contactadas pelo jornal adiantaram que a nova força paramilitar contará com várias centenas de dissidentes armados, incluindo alguns antigos membros do entretanto desmantelado IRA Provisional que promoveram uma campanha de violência e deslocamentos forçados de homens na cidade de Londonderry que o grupo acusava de tráfico de droga.
A nova estrutura inclui também os que são designados no comunicado por “republicanos não conformados”, que o Guardian descreve como pequenos grupos independentes de Belfast e de regiões rurais da Irlanda do Norte. Com a nova organização, o IRA Verdadeiro e a RAAD deixam de existir.
Todos os grupos que agora se juntaram opuseram-se à estratégia de paz do braço político do IRA, o Sinn Féin. O IRA Verdadeiro surgiu em 1997, a partir de uma facção dissidente do IRA Provisional, enquanto o RAAD tem levado a cabo uma campanha violenta contra alegados traficantes de droga na Irlanda do Norte e as várias facções republicanas independentes que agora se juntam aos outros dois juntam vários grupos armados. De fora fica o IRA Continuidade, que se mantém independente.
No comunicado divulgado, a nova organização refere que “nos últimos anos o estabelecimento de uma Irlanda livre e independente tem sofrido recuos devido às falhas de liderança no nacionalismo irlandês e divisões entre os republicanos”, numa referência à contestação da estratégia de paz do Sinn Féin, que resultou numa partilha de poder com unionistas. Hoje Martin McGuiness, antigo responsável do IRA Provisional, é vice-primeiro-ministro na Irlanda do Norte.
O grupo agora anunciado refere ainda que “a necessidade de recurso à luta armada para alcançar a paz na Irlanda do Norte pode ser evitada através da retirada da presença militar britânica, do desmantelamento das suas milícias armadas e do estabelecimento de um calendário internacional que detalhe o desmantelamento da interferência política britânica” na Irlanda do Norte.
O IRA recorreu durante mais de duas décadas à luta armada e a ataques com o objectivo de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido para a integrar na católica República da Irlanda. A 28 de Julho de 2005 anunciou o fim da luta armada após um conflito em que morreram mais de 3500 pessoas.