Hives animaram a última noite de um festival que “cumpriu os objectivos”

Foto
The Hives Manuel Roberto/arquivo

Foram 95 mil as entradas registadas no Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, ao longo de quatro noites. Na madrugada de domingo, quando Pedro Abrunhosa ainda não tinha entrado em palco para o concerto de encerramento, a organização fez o rescaldo. “Nesta edição de encerramento, cumprimos completamente os objectivos, em termos de sucesso das bandas e do público”, declarou Jorge Silva, da organizadora Pev Entertainment. Foi também confirmada a edição 2013, que se realizará entre 18 e 20 de Julho. Porém, no palco principal, apenas a actuação dos suecos Hives entusiasmou, em contraste com a cabeça de cartaz Anastacia.

Antes do palco principal ter sido aberto com Mónica Ferraz, houve uma portuguesa a destacar-se no palco secundário: Luísa Sobral. A autora de The Cherry On My Cake protagonizou o momento mais relevante de um palco secundário até então marginal. Quase lotando a área disponível, apresentou não só os maiores êxitos (tais como “Not there yet”) mas abordou também os repertórios de Britney Spears (com “Toxic”) e mesmo de Mónica Sintra ("Afinal havia outra"). Numa próxima edição, poderá muito bem passar para o palco principal.

Mónica Ferraz apresentou o álbum Start Stop, fazendo uso da sua potente voz e de uma banda de suporte competente, potenciada por duas vocalistas adicionais. A soul elegante é a sua linguagem principal, mas a ex-voz dos Mesa procurou construir um espectáculo multifacetado, com “Go-Go-Go” a aproximar-se mais do rock e um excerto de “Le Freak”, dos Chic, a dar um cheirinho de disco. Num espectáculo de 50 minutos, pecou por aproveitar os refrões das suas canções mais conhecidas até ao tutano, mas conseguiu uma boa adesão do público, finalizando com “Golden days”.

Os Hives são como aqueles amigos bem-humorados que gostamos sempre de rever. Até podemos nunca ter sido muito próximos dele, mas são sempre capazes de nos arrancar uma gargalhada. Os suecos estão a apresentar um novo álbum, Lex Hives, após cinco anos de silêncio, mas não têm propriamente novidades para mostrar: a receita continua a passar por músicas imediatas de três minutos, punk com refrões orelhudos e alguns riffs bem esgalhados (como o de “Uptight”). “Pedimos desculpa por ter estado tanto tempo sem um álbum novo”, disse o vocalista Per Almqvist, empoleirado em cima da bateria, vestido num impecável fraque, cartola incluída.

Ao longo do espectáculo, foram vários os momentos de ironia. A banda tem um sentido de humor pouco comum no universo rock e, depois de pedir para os estreantes em concertos dos Hives se manifestarem, solicitou o mesmo para quem “acha que nunca vai querer voltar a ver os Hives”. Mais tarde, sentou quase toda a plateia, ameaçando com o cancelamento do concerto de Anastacia se não o fizessem. Boa parte do público colocou-se de pé, porque poucos dos fãs da banda estariam interessados em ouvir a norte-americana. O enérgico espectáculo incluiu “Hate to say I told you so" – “o nosso hino nacional” –, "Main offender", "Walk idiot walk" e "Tick tick boom". Miguel, um fã português, teve ainda o privilégio de subir ao palco e tocar com o quinteto.

Após esta descarga rock, o ambiente não era o mais favorável para a pop mesclada de R&B de Anastacia. A norte-americana parece ter perdido boa parte do poder da sua voz – o coro de duas vozes não o pôde encobrir -, o que se reflectiu numa prestação anódina. Apesar de acompanhada por músicos de topo, Anastacia não tem muita vida para além dos êxitos radiofónicos.

A única surpresa foi a inclusão no alinhamento de uma versão de “Empire state of mind”, de Jay-Z, em que Anastacia substituiu no refrão “New York” por “Porto”. A propósito, apesar do festival se realizar em Gaia (e ser fortemente apoiado pela Câmara Municipal), apenas Pedro Abrunhosa, no derradeiro concerto, se dirigiu à cidade que acolhe o festival. Após citar “We are family”, de Sister Sledge, Anastacia fechou a actuação com “Left outside alone” e I’m outta love”, no único momento em que conseguiu pôr uma parte significativa do público a saltar.

Pedro Abrunhosa encerrou o Marés Vivas 2012, num típico concerto de síntese da carreira, que apenas terá entusiasmado verdadeiramente os fãs indefectíveis, até porque já se notava um certo cansaço dos festivaleiros. O portuense apostou num início eléctrico, com “Eu sou o poder”, “Entre a espada e a parede” e “Não posso mais”, numa versão rock soturna e estilhaçada, que lhe retira a magia. Aliás, desde que é acompanhado pelo Comité Cavier que o músico optou por reinterpretar por completo os temas do marcante Viagens, retirando-lhe os metais e boa parte do impacto.

A actuação prosseguiu depois com uma série de baladas como “Não desistas de mim” e “Eu não sei quem te perdeu”, em que se apresentou sozinho ao piano.

Em novo crescendo de intensidade, abordou “É preciso ter calma”, numa reinterpretação descarnada, baseada num riff funk, e com referências a James Brown. “Talvez foder” serviu para mandar recados – “prefiro o caos a este silêncio, porque o silêncio corrompe” –, já depois de Abrunhosa (que repetiu várias deixas de concertos anteriores ao ar livre) ter sugerido a união entre Porto e Gaia. O encore incluiu a bela “Lua”, em versão longuíssima, “Fazer o que ainda não foi feito” e “Tudo o que eu te dou”, ao piano. Eram quase 4h e restava apenas dizer “até para o ano”.

Notícia corrigida às 16h: troca "95 mil os festivaleiros que passaram pelo Marés Vivas" por "95 mil as entradas registadas no Marés Vivas"
Sugerir correcção
Comentar