Billy Idol cumpriu e os Gogol Bordello levantaram pó

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As atenções estiveram viradas para Billy Idol, que tinha actuado pela última vez em Portugal há quase 19 anos Paulo Pimenta

Na noite mais concorrida até ao momento do festival Marés Vivas, no Cabedelo, em Vila Nova de Gaia, nenhuma banda falhou os “mínimos olímpicos”. Billy Idol foi o rockeiro de serviço que se aguardava, enquanto o punk cigano dos Gogol Bordello encheu o recinto de dança e muita poeira. Destaque ainda para Ebony Bones, autora do concerto mais inventivo do certame, ainda antes dos portugueses Os Azeitonas celebrarem 10 anos de carreira.

Às 21h, Ebony Bones subiu ao palco acompanhada de duas bateristas, um teclista, um guitarrista e dois percussionistas nos timbalões, com máscaras representando cavalos. Estes últimos tinham uma função tanto musical quanto cénica, que Ebony Bones, também actriz, assumiu como parte integrante do espectáculo. Navegando entre o punk e o funk, linhas de sintetizador bizarras e ritmos tribais, a britânica – que já tinha marcado presença, em Portugal, na Casa da Música e nos festivais Super Bock em Stock e Sudoeste – assinou um concerto intenso, apesar de pouca atenção que a reduzida assistência lhe ofereceu. Explorando Bone of My Bones, disco de estreia lançado em 2009, apresentou “W.A.R.R.I.O.R.”, suportada por um riff quase metal, “We know all about U”, algures entre o rap e o trip-hop, e ainda uma contida versão de Enjoy the silence, dos Depeche Mode. Apesar de estar algo deslocada no âmbito do cartaz, ninguém retira a Ebony Bones, dona de uma farta cabeleira loira, o título de espectáculo mais surpreendente e aventureiro.

Os Azeitonas tomaram o palco por volta das 22h. Resultado de uma miscelânea de influências, desde a pop anglo-saxónica dos anos 1960 ou 1970 até ao nacional-cançonetismo e o mais que o valha (ouviram-se, por exemplo acordes de "All the Young Dudes", de David Bowie), a banda portuense viu a sua popularidade subir em flecha graças a “Anda comigo ver os aviões”. Por isso, não foi de estranhar que reunissem muito mais público do que Ebony Bones, satisfeita que estava a fome na zona de alimentação. Fazendo a ronda pelos temas mais conhecidos, como “Dança, menina dança” ou “Quem és tu miúda?”, o colectivo pareceu confortável, até porque repetiu um modelo de concerto já testado na Queima das Fitas. Rui Veloso, convidado especial, cantou os versos finais de “Nos Desenhos Animados” e um dos seus grandes sucessos, “Paixão”, o que motivou uma cantoria colectiva e muitos telemóveis no ar. Mas o ponto alto chegou mesmo no fim, com “Anda comigo ver os aviões”, cujas vocalizações estiveram novamente a cargo de Rui Veloso.

Tratou-se de um concerto simpático, mas as atenções estavam viradas para Billy Idol, que tinha actuado pela última vez em Portugal há quase 19 anos, quando fez a primeira parte dos Bon Jovi no Estádio de Alvalade, em Lisboa. Em suma, tratava-se de um espectáculo para maiores de 40 anos, “condenado” à partida a girar em torno dos grandes êxitos do britânico. Não é aos 56 anos que ele irá conquistar novos adeptos, por isso interessa-lhe sobretudo que os fãs de sempre regressem a casa satisfeitos. Julgámos que foi isso que aconteceu.

Rodeado de músicos rodados e competentes, Idol protagonizou um espectáculo em que estiveram presentes grande parte dos clichés rock & rol: o casaco de cabedal, o vocalista em tronco nu, longos solos, o guitarrista tocando em modo windmill (como Pete Townshend dos Who) e o uso constante do calão (“I’m Billy fucking Idol”, despediu-se o músico, no termo do concerto).

Idol apresentou-se em boa forma física e vocal. O passar dos anos é notório, mas ainda lá está o cabelo loiro e espetado e o ar rebelde. Os sucessos surgiram todos em interpretações escorreitas: Dancing with myself, a balada Sweet sixteen, Eyes without a face, Rebel yell, White wedding, Mony mony e uma versão eléctrica de L.A. Woman, dos Doors. No cômputo geral, pode falar-se em missão cumprida.

Aos Gogol Bordello cabia fechar a festa, uma missão mais do que adequada para uma banda que faz gala em nunca tirar o pé do acelerador. E assim foi ao longo de 1h30 em que levantaram muito pó, correram quilómetros em palco e revelaram algumas ideias curiosas. Se bem que a fórmula seja quase sempre a mesma (andamentos elevados, refrões trauteáveis, punk misturado com música cigana), há a espaços elementos imprevistos, frequentemente criados pela presença do violino, do acordeão e mesmo da harmónica. “Immigraniada (We Comin’ Rougher)” é punk puro que arranca com uma linha de baixo viciante, enquanto “Alcohol” soa a espaços a flamenco.

Depois de encerrarem o alinhamento principal com Start wearing purple, os Gogol Bordello ainda voltariam à acção para um encore que incluiu Harem In Tuscany, acompanhado por bailaricos improvisados no recinto. Na despedida, perante um público que ainda pedia mais, ouviu-se como música de fundo “Redemption Song”, de Bob Marley.

No encerramento do festival, este sábado, estarão presentes no Cabedelo Mónica Ferraz (21h), os suecos The Hives (22h), a norte-americana Anastacia (23h15) e Pedro Abrunhosa e Comité Caviar (1h).

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