Blatter e o caso de suborno de João Havelange e Ricardo Teixeira na FIFA: "Não era crime na altura"
O que têm em comum Havelange e Teixeira? Família, milhões na conta bancária, altos cargos e os motivos das demissões
O Supremo Tribunal Suíço (STS) ordenou anteontem que a FIFA divulgasse os documentos do processo judicial que incriminam João Havelange, ex-presidente da FIFA, e Ricardo Teixeira, antigo presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), de terem recebido subornos. Uma decisão que deixa o organismo que rege o futebol mundial e Joseph Blatter, na altura secretário executivo, com a imagem manchada. O suíço, contudo, defendeu-se ontem: "Eu não poderia saber de um crime que não era crime na época."
A história remonta aos anos 90, quando a ISL (International Sports and Leisure) assinou uma parceria com a FIFA, garantindo os direitos de comercialização do Mundial e também uma participação na negociação dos direitos televisivos. Segundo os documentos do STS, Havelange recebeu um milhão de euros da ISL. Já Ricardo Teixeira, que entretanto se mudou para Miami, embolsou um total de 10 milhões de euros da ISL.
O escândalo estalou quando a empresa fechou portas em 2001, por falência, com dívidas que rondavam os 245 milhões de euros, o que conduziu a uma investigação judicial - finalizada em Maio de 2010. Na altura, Havelange e Teixeira pagaram, alegadamente, cerca de 4,5 milhões de euros à justiça para não verem os seus nomes divulgados. Só que uma reportagem da BBC não deixou morrer o caso.
Ontem, na reacção à ordem do STS, a FIFA assumiu "satisfação" por considerar que a divulgação dos documentos do processo judicial contribui para a transparência no organismo. Mas Blatter teve que justificar o motivo por que, sendo na altura secretário executivo da FIFA e tendo tido conhecimento dos factos, não os denunciou. "Na época, os pagamentos podiam ser deduzidos dos impostos como despesas profissionais. Eu não poderia saber de um crime que não era crime na época", disse. Blatter revelou ainda que a FIFA está a criar dois órgãos na Comissão de Ética, um de instrução e outro de decisão "para fortalecer o sistema judicial da FIFA".
João Havelange foi líder da FIFA entre 1974 e 1998 e ainda é o seu presidente honorário. No ano passado abandonou o Comité Olímpico Internacional (COI) por motivos de saúde, embora alguma imprensa tivesse sugerido que a decisão foi tomada para evitar sanções e a expulsão do COI.
Ricardo Teixeira, ex-genro de Havelange, foi presidente da CBF de 1989 a 2012, data em que abandonou o cargo. O brasileiro, que liderou ainda o Comité Organizador Local do Campeonato do Mundo (2014) e foi membro do Comité Executivo da FIFA, afastou-se destas funções alegando, também ele, motivos de saúde.