Soderbergh continua a sua observação do capitalismo ordinário, e das pequenas vidas dos pequenos comerciantes de bas fonds. De bas fonds e de baixo ventre - também por isso Magic Mike, ambientado num clube de strippers-homens, parece a rima masculina para Confissões de uma Namorada de Serviço. Tudo faz sentido: a fealdade daquilo, a platitude das personagens, a extrema codificação capaz de tornar todas as coisas - até o sexo - profundamente desinteressantes (é o mercado: sem códigos não há vendas, conhecemos o processo da música, do cinema... e Magic Mike mostra muito bem a MTV-ização da chamada indústria do sexo). Portanto, um filme inteligente, até muito dominado. E no entanto, mais uma vez a arreliadora sensação de que Soderbergh, levando o filme muito a sério, se implica pouco, num registo descritivo desalmado e, bem vistas as coisas, escassamente imaginativo (depois dos primeiros cinco minutos, numa entrada quase em trompe l''oeil, alguém é capaz de apontar um plano - um - de que não se estivesse à espera?). Soderbergh podia ter delirado, esticado o lado All About Eve (o stripper jovem vs. o stripper fora de prazo) do argumento, fazendo do filme o que é e ao mesmo tempo mais qualquer coisa. Mas é o problema genérico destes seus últimos filmes, feitos de enfiada: são o que são, sem mais nada.
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