Miss Lisboa: passo a passo se conhece a capital

Dalila dá aulas de português e inglês, Cláudia é formada em turismo e Tiago adora desenhar. Os três criaram uma empresa, a Miss Lisbon, e, por quatro percursos diferentes, mostram a cidade a todos os curiosos. A pé

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Carla Rosado

Chama-se Miss Lisbon porque entendem a cidade no feminino, cantada por poetas e fadistas. O nome em inglês é para ser mais facilmente pronunciável pelos turistas. O percurso arranca no Cais das Colunas, no Terreiro do Paço e durante aproximadamente três horas promete desvendar algumas surpresas históricas que a cidade contém.

Foi, há cerca de um mês, numa viagem de metro que a ideia ganhou forma. Os irmãos Cláudia e Tiago Leal, formados em turismo e engenharia civil, respectivamente, estavam cansados de estar desempregados. A aventura de embarcarem num negócio deles tornou-se aliciante. 

Ele trabalhou durante seis anos como engenheiro civil numa empresa de construção e ela é formada em turismo pela Universidade de Coimbra, que completou com um mestrado em Inglaterra. A dificuldade de estarem desempregados abriu portas à oportunidade de se aventurarem num negócio deles. “Falámos muitas vezes que a saída seria um negócio nosso, porque mandávamos currículos e ninguém nos respondia”, explica Tiago, 30 anos, que trabalhou seis anos numa empresa de construção.

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Ao projecto juntaram Dalila Silva, 29 anos, casada com Tiago, que ensinava português e inglês a crianças e durante o Verão também ficava sem emprego e, deste modo, “ficou tudo em família”, afirma Dalila. 

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Depois de estudos de mercado para avaliar a viabilidade do projecto, e partindo das diferentes valências de cada um, a ideia era criar um conceito inovador. “Nos procurávamos uma forma diferente de mostrar Lisboa a quem nos visita e os percursos pedestres pareceram a melhor opção”, acrescenta.

Quatro percursos diferentes

São quatro os percursos que os três amigos de Coimbra oferecem a quem quer visitar a capital, pensados em torno de um meio de transporte diferente. Duas vezes por dia, às 10h30 e às 14h30, e aos fins-de-semana, mediante reserva, é possível explorar a parte antiga da cidade a bordo do mítico eléctrico 28, admirar a vista lisboeta do alto do elevador de Santa Justa, atravessar o rio Tejo num cacilheiro e subir ao Cristo Rei ou visitar o Museu dos Coches. Os preços podem ser consultados no site e variam entre os 10 e os 25 euros.

Durante aproximadamente três horas, com algumas paragens pelo meio, os amigos guiam os turistas a pé. “É mais saudável, faz-nos fazer exercício físico e até nós já estamos mais em forma”, justifica Claúdia. No final do percurso, os visitantes podem ainda levar para casa uma "t-shirt" ou um postal. “Isso é culpa do Tiago que anda sempre com um caderno atrás para desenhar tudo o que vê”, explica Dalila. Tiago ri-se e diz que aliar o talento ao "merchandising" foi uma forma de diferenciar o projecto. 

De duas em duas semanas, Tiago desenha uma nova "t-shirt" e todas as semanas cria um novo postal, que podem ser comprados no site da Miss Lisbon, independentemente da participação no percurso. “Só têm de indicar o tamanho e a cor e nós enviamos para casa”, concretiza Cláudia.

Para os amigos, a principal vantagem da empresa é poder contactar com turistas de várias nacionalidades e ensinar aos outros a cultura e a história de uma das cidades de que mais gostam, o que, no entanto, implicou alguma dedicação extra e renovação de conhecimentos para estarem à altura do desafio. “Tivemos de ler imensos livros sobre Lisboa”, diz Cláudia. “E de gestão de empresas. Criámos manuais e voltámos a estudar”, acrescenta Tiago.

Um projecto para continuar 

As principais dificuldades em passar os dias a passear por Lisboa prendem-se com o facto de terem de visitar os mesmos locais várias vezes seguidas e com o cansaço inerente a caminhadas debaixo do sol, que, como refere Dalila, “mesmo para os turistas é complicado”.

Apesar disso, mesmo que chova, a intenção é dar continuidade ao projecto durante o Inverno, tendo, para isso, de pensar em alternativas que podem passar por percursos em espaços interiores ou empréstimos de guarda-chuvas. “Não faz sentido terminar no Inverno, até porque quem vem conhecer Lisboa vai querer sempre sair de casa, porque pode não voltar tão cedo”, assegura Tiago.

Durante o primeiro mês, os amigos têm guiado mais espanhóis, mas estão abertos a qualquer nacionalidade e a portugueses que queiram conhecer melhor a capital, aptando o discurso ao conhecimento de cada visitante. No futuro, esperam gostavam de alargar o projecto a outras cidades. “Era bom ir para Coimbra, por exemplo”, refere Cláudia.

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