Catástrofe nuclear de Fukushima foi provocada pelo homem
“Apesar de espoletado por estes eventos catastróficos, o acidente subsequente na central nuclear de Fukushima Daiichi não pode ser considerado um desastre natural”, deliberou a comissão de peritos criada pelo Parlamento nipónico em Maio de 2011 para avaliar a gestão da crise e fazer recomendações.
A central nuclear de Fukushima Daiichi, com seis reactores nucleares, ficou seriamente danificada após o tsunami, causado por um sismo de magnitude 9 na escala de Richter, ter destruído os sistemas de arrefecimento dos reactores, levando a várias fusões em cadeia e à libertação de radioactividade. Foram necessários nove meses de trabalhos para declarar a central estabilizada. O acidente de Fukushima foi considerado o mais grave desde o acidente de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986. Cerca de 150.000 pessoas, que moravam a 20 quilómetros da central ou em localidades contaminadas, foram forçadas a abandonar as suas casas devido aos riscos para a saúde. A radioactividade chegou a vários alimentos produzidos na província de Fukushima, principalmente legumes, vegetais e leite.
Nesta quinta-feira foi divulgado o relatório final, que sumariza a investigação ao acidente de Fukushima, um trabalho que começou em Dezembro de 2011 e incluiu 900 horas de entrevistas a mais de 1100 pessoas. O documento, com 641 páginas, conclui que o desastre “deveria e poderia ter sido previsto e prevenido” e os seus efeitos “mitigados por uma resposta humana mais eficiente”.
A catástrofe de Fukushima "é o resultado de um conluio entre o Governo, as agências de regulação e o operador Tepco (Tokyo Electric Power Company), e de uma falta de gestão naquelas mesmas instâncias", concluiu o relatório final. O documento apontou graves deficiências na actuação do Governo - nomeadamente do então primeiro-ministro Naoto Kan, que se demitiu no ano passado depois de críticas à forma como geriu a crise - e dos responsáveis da central nuclear. “Durante a investigação, a comissão encontrou uma ignorância e uma arrogância que não têm desculpa para qualquer pessoa ou organização que lide com energia nuclear."
Este painel de peritos considera que houve várias oportunidades perdidas e que a companhia responsável poderia ter adoptado medidas para evitar o acidente, vários anos antes de este acontecer. "A direcção da Tepco estava consciente dos atrasos nos trabalhos anti-sísmicos e nas medidas contra os tsunamis. Sabia que Fukushima Daiichi era vulnerável”, salientou a comissão.
Um inquérito anterior à catástrofe de Fukushima, mandatado pela Tepco, desculpou a companhia de electricidade de qualquer responsabilidade, afirmando que o forte sismo e a dimensão do tsunami ultrapassaram todas as previsões e não poderiam ter sido previstos. O relatório final desta comissão de inquérito considera que isso "parece ser uma desculpa para fugir às responsabilidades".
Além disso, a intervenção directa do gabinete do primeiro-ministro nos trabalhos de emergência na central nuclear provocou uma quebra na cadeia de comandos nas primeiras horas da crise. A mesma comissão de inquérito também culpou as convenções culturais e a relutância em questionar a autoridade como factores agravantes da catástrofe.
Agora, o relatório do painel de peritos recomenda a criação de um comité permanente para acompanhar o trabalho das autoridades reguladoras do sector da energia nuclear. Kiyoshi Kurokawa, coordenador da comissão, espera que estas conclusões sejam utilizadas para reforçar o sistema de regulamentação nuclear no futuro e ajudar as populações que foram desalojadas pelo acidente nuclear, noticiou a estação japonesa NHK.
Os peritos da comissão manifestaram alguma preocupação perante a possibilidade de o Japão vir a reactivar a sua rede de reactores nucleares (50) que, antes da catástrofe de Fukushima, eram responsáveis por 30% da electricidade consumida. Apenas um deles, na central Ohi - gerida pela companhia Kepco (Kansai Electric Power Company) - está em funcionamento. Este reactor foi reactivado nesta segunda-feira e começou hoje a produzir energia para a rede. De acordo com os peritos da comissão pode existir uma falha sísmica por baixo da central Ohi.