Ora aqui está um daqueles objectos-limite em que Isabelle Huppert tanto gosta de se empenhar: a história de uma mãe que se descobre fotógrafa e usa a sua filha adolescente como modelo das suas imagens fantasmáticas e transgressivas na Paris dos anos 1970 é na verdade uma ficção autobiográfica à volta da experiência verdadeira da sua autora, Eva Ionesco, como modelo das imagens que criaram escândalo da sua mãe Irina.
Enquanto "Eu Não Sou a Tua Princesa" entra pela construção da relação entre mãe e filha, enquanto Violetta se deixa seduzir pelo glamour e pelo brincar ao faz-de-conta das fantasias da sua mãe, tudo corre bem - Ionesco desenha com inteligência a dinâmica familiar de uma relação doentia, onde às tantas já não se sabe muito bem quem é a mãe e quem é a filha, onde acaba o amor e começa a dependência. Quando a realizadora sai fora desse universo mórbido e claustrofóbico para desenhar o contraste com o mundo real, no entanto, o filme tomba na convenção e na redundância, reduz-se apenas a mais uma história de artistas incompreendidos e famílias infelizes, desequilibra-se fatalmente.
O one-woman-show de Isabelle Huppert e a revelação de Anamaria Vartolomei, a par da frontalidade com que Eva Ionesco constrói a “bolha” que mãe e filha criam, chegam e sobram para que "Eu Não Sou a Tua Princesa" seja um filme “aquém” do que podia ser mais do que apenas um filme falhado.