Praga de lagartas-do-sobreiro está a ameaçar produção de cortiça

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As lagartas são uma praga conhecida que ocorre sobretudo em anos em que houve períodos de seca no Inverno Daniel Rocha

Na maior mancha de montado de sobro do mundo, localizada na região do Vale do Tejo-Sado, uma área com quase meio milhão de hectares voltou a ser afectada pela praga da lagarta-do-sobreiro (Lymantria dispar L), um fenómeno que está a alarmar os produtores de cortiça.

A eclosão da larva do insecto provoca a desfolhagem das árvores, afecta a qualidade da cortiça e pode causar problemas de saúde devido aos pêlos urticantes da lagarta. São aos milhões os insectos que deixam os sobreiros num estado desolador, limpos de folhas quando se encontram na sua fase mais tenra, durante a Primavera, devoradas pelas lagartas.

Duarte Guerreiro, que tem uma exploração em Boavista dos Pinheiros, no concelho de Odemira, contou ao PÚBLICO que os sinais de recrudescimento da praga surgiram há três anos numa propriedade no concelho de Sines. Na altura, "não foram tomadas medidas preventivas" e este ano "calhou-me" observar um alastramento "exponencial" das árvores afectadas, cujos resultados estão expressos na queda "em 50%" da produção de cortiça, constata.

"A árvore nacional continua a sofrer ataques sem que nada seja feito" para debelar os vários males de que padece, protesta Duarte Guerreiro, sublinhando ter falado com a Autoridade Florestal Nacional (AFN),mas, até ao momento, "não apareceu ninguém para fazer o levantamento da situação". A infestação começou numa área com um hectare, "alastrou" até aos 200 hectares e o receio é que a praga continue a aumentar.

As pragas provocadas por insectos que se alimentam de folhas de sobreiro já têm muitas décadas. Até aos anos 1960, as espécies de lagarta-do-sobreiro justificavam "o recurso a tratamentos com DDT" que prosseguiram durante muitos anos e obrigavam a recorrer aos meios aéreos, observou Luís Dias, presidente da Associação de Agricultores de Grândola (AAG).

Em anos mais recentes, as pragas com lagartas ressurgiram "quando as condições climatéricas se revelaram adversas", nomeadamente períodos de seca, que beneficiam o ataque da praga, assinala o dirigente, frisando que a Lymantria díspar "é muito conhecida" mas "não mata" as árvores. "Mais de 90% recuperam."

No entanto, admite que a praga causa prejuízos às árvores afectadas. Quando sofrem um ataque de lagartas, as folhas que funcionam como "um sistema de bombagem de água" para alimentar a árvore "desaparecem", explica Luís Dias. Quando tal acontece, a árvore é forçada a recorrer a outras energias para recuperar da sua debilidade através da renovação da copa, o que atrasa o crescimento da cortiça.

O presidente da AAG diz já ter falado com a AFN, mas continua a aguardar que esta entidade intervenha, embora adiante que "não se está" perante um problema regional.

A margem para intervir é muito estreita, explica, referindo que recorrer ao DDT ou a outros insecticidas, através de meios aéreos, "está fora de questão". A solução reside em "armadilhas com feromonas" para capturar os machos e reduzir assim a população das lagartas de sobreiro, propõe Luís Dias, fazendo notar que no ano em curso "já não se pode fazer grande coisa" porque a lagarta se transformou em borboleta.

O PÚBLICO pediu esclarecimentos ao Ministério da Agricultura mas não obteve resposta. Já à Lusa, a tutela confirma que se trata de uma praga endémica nos montados portugueses cujas populações aumentam quando ocorre "um período de seca intenso durante os meses de Janeiro, Fevereiro e Março". No entanto, não se trata de um organismo nocivo de quarentena, "pelo que não existe uma obrigação legal para implementar um plano de contenção". O ministério diz estar a "prestar aconselhamento técnico a quem o solicita".

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