Peña Nieto ganha as eleições e dá segunda oportunidade ao PRI
Mexicanos castigam os governadores e acreditam na renovação do partido que governou sem oposição durante o século XX. Candidato da esquerda ainda não reconheceu a derrota
Pela mão de Enrique Peña Nieto, eleito Presidente com cerca de 38% dos votos, o Partido Revolucionário Institucional (PRI) recuperou a hegemonia política no México, ao juntar ao Governo nacional maiorias na Câmara de Deputados e no Senado, e também a maior representação no poder local e estadual.
No seu primeiro discurso, o futuro Presidente do México fez questão de anunciar uma "nova era" no país. O antigo monopólio do PRI, que assegurou o governo do México ao longo do século XX, e especialmente os rótulos colados ao poder do PRI - autoritarismo, corrupção, nepotismo - pertencem ao passado e foram ultrapassados pela história, disse. "O México mudou. Somos uma nova geração, não há regresso ao passado", garantiu. "Não foi um partido que ganhou, foi a democracia."
"Ele é o homem do PRI democrático", dizia ao El País um dos apoiantes de Peña Nieto presente na sede de candidatura para a noite eleitoral. Luís Angel López, de 33 anos, referia-se ao candidato da "eficiência", dos "consensos" e da "responsabilidade", que prometeu "uma nova forma de governar para o México do século XXI", plural e democrático. "Antes era tudo imposto, mas agora sentes que tens o direito de decidir", acrescentava a sua mulher, Sandra Fonseca.
O partido que cuida dos seus
Outros militantes lembravam que entre as suas razões para apoiar Peña Nieto estava o facto de terem conseguido um emprego/um aumento/um favor graças ao PRI - confirmando assim o que o diário espanhol descrevia como "o mito mexicano" do partido que podia esquecer-se das liberdades mas nunca deixava de cuidar dos seus.
No ano 2000, os mexicanos quiseram mudar de regime, e catapultaram o Partido da Acção Nacional (PAN), de centro-direita, para o palácio de Los Pinos. A promessa de mudança, porém, não se concretizou, com a lógica clientelista apenas a mudar de intervenientes. E, pior do que isso, a sociedade não sentiu que a sua vida melhorasse - pelo contrário, os inquéritos pré-eleitorais revelaram que a maior parte do país considerava viver pior agora do que há 12 anos, quando o PRI deixou o poder. "Aprenderam com os erros e levantaram-se com força", concluía Joaquín Montenegro, um músico de 22 anos, que votou por Peña Nieto.
A força do PRI deixou notoriamente para trás as aspirações da esquerda, mais uma vez reunida na candidatura de Andrés Manuel López Obrador (ou AMLO). Ao longo da noite eleitoral, o líder do Movimento Progressista manteve-se cauteloso, aconselhando calma e tranquilidade aos seus apoiantes, exasperados pelas imediatas declarações de vitória dos priistas. "Se houver imposição, faremos a revolução", prometiam.
Como já sucedera em 2006, AMLO (que terá conseguido 32%) disse que esperaria pela contagem final dos votos para se pronunciar. "Não desqualifico a informação oficial, mas os nossos dados são diferentes. Ainda não foi dita a última palavra", reagiu, sem conceder a derrota mas também sem contestar abertamente os resultados. "Não vamos actuar de forma irresponsável", prometeu.
Inconformados, os jovens do movimento YoSoy132 estavam ontem a organizar uma marcha na Cidade do México, para denunciar irregularidades na votação e exigir transparência na contagem. Mas o presidente do Instituto Federal Eleitoral negou a existência de fraudes e considerou a votação "exemplar". Dos mais de 79 milhões de eleitores, 63% acorreram às urnas, o valor mais alto de sempre na democracia mexicana.
A candidata do PAN, Josefina Vásquez Mota, pronunciou-se logo após as primeiras projecções (que lhe davam cerca de 25%). Assumiu pessoalmente a derrota dos conservadores, castigados pelos eleitores pelo desgaste político do Governo e prejudicados por uma campanha que os analistas classificaram como "errática", desordenada e recheada de "casos" - o apoio declarado do ex-Presidente Vicente Fox ao candidato do PRI em detrimento do seu próprio partido foi um dos momentos mais inesperados.
Ontem, Felipe Calderón, que se mantém em funções até 1 de Dezembro, cumprimentou Peña Nieto pela vitória e garantiu a "absoluta disponibilidade [do Governo] para colaborar com a sua equipa, para que a mudança de administração se realize de forma ordenada".
"Os mexicanos deram uma segunda oportunidade ao meu partido", agradeceu o vencedor, prometendo um "Governo eficaz, honesto e transparente" e uma "presidência moderna e responsável, aberta à crítica e disposta a ouvir e a levar todos em conta".