Estudante de Medicina não pôde dar sangue por ser homossexual
Instituto Português do Sangue recusou a dádiva de estudante de Medicina de 23 anos, que costuma dar sangue duas vezes por ano. Bloco de Esquerda denunciou o caso
Um estudante de Medicina de 23 anos viu a sua dádiva de sangue recusada, há duas semanas, numa unidade móvel do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, em Lisboa. O motivo? Declarar-se homossexual. Este aluno universitário costuma, desde há dois anos, dar sangue duas vezes por ano.
O Bloco de Esquerda (BE), que há dois anos fez aprovar uma resolução parlamentar contra uma prática que considera discriminatória, veio denunciar o caso.
Alexandre (nome fictício) disse ao PÚBLICO que a pergunta sobre se a pessoa que quer dar sangue é homossexual ou bissexual não constava do questionário que teve que preencher antes da dádiva, e esta era uma das reivindicações do BE, mas afirma que a médica que lhe fez a entrevista pré-dádiva lhe disse que "nunca mais poderia dar sangue porque é homossexual", isto depois de lhe ter sido perguntado se tinha múltiplos parceiros sexuais, ao que respondeu negativamente, e se utilizava preservativo, ao que respondeu que sim e que tinha o mesmo parceiro há um ano.
"Não posso fazer nada, são regras"
Alexandre questionou quanto tempo teria de estar em abstinência sexual até poder dar sangue tendo-lhe sido respondido que "nunca mais poderia dar sangue porque é homossexual". O estudante de Medicina disse que não tinha comportamentos de risco, mas a profissional de saúde respondeu de volta: "Não posso fazer nada, são regras".
Depois deste episódio deixou a sua queixa na caixa do cidadão do Bloco de Esquerda que, com base no caso, afirma que os homossexuais e bissexuais masculinos continuam a ser discriminados nas dádivas de sangue.
A situação há muito vem sendo denunciada pelo partido que, em 2010, fez aprovar na Assembleia da República uma resolução que recomendava ao Governo "a adopção de medidas que visem combater a actual discriminação dos homossexuais e bissexuais nos serviços de recolha de sangue".
O partido parte do pressuposto "que nem todas as pessoas discriminadas reclamarão e que é lícito inferir que este não será um caso isolado".
Assim, na sequência da denúncia de Alexandre, o deputado bloquista João Semedo remeteu ao Governo uma série de perguntas, questionando o que foi feito para pôr em prática a resolução do Parlamento que pretendia pôr fim a práticas consideradas homofóbicas.