Todos os anos um milhão de adolescentes morre ou tem complicações devido a gravidez

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Kali, 12 anos, vive no Paquistão e está grávida Foto: <i>Save The Children</b>

De acordo com o documento Every Woman's Right: How family planning saves children's lives, que acaba de ser divulgado, as raparigas que engravidam com menos de 15 anos têm cinco vezes mais probabilidade de morrer durante a gravidez ou durante o parto do que se engravidassem com 20 ou mais anos. “O risco de morte materna aos 15 anos é de 1 em 3800 casos nos países desenvolvidos e de 1 em 150 nos países em desenvolvimento”, sublinha a Save The Children.

A organização frisa que todos os dias existem cerca de 25 mil casamentos de raparigas com menos de 18 anos, o que associado à falta de planeamento familiar acaba por fazer disparar o número de gravidezes em corpos que ainda não estão totalmente desenvolvidos. A situação é mais comum nas zonas rurais e em famílias com baixa escolaridade.

Foi este o caso de Kali. “Tive o meu primeiro período 15 dias depois de casar. Não fazia ideia do que estava a acontecer. O meu marido explicou-me o que era. Mas no mês a seguir nada aconteceu. Quando passou um segundo mês e voltou a não acontecer nada disse ao meu marido. Ele disse que eu talvez estivesse grávida. Levou-me a um médico que confirmou que estava grávida de dois meses. Fiquei estática. Telefonei de imediato para casa e contei à minha mãe. Ficou preocupada que fosse demasiado nova para tudo isto. Eu não prestei muita atenção mas, mais tarde, quando a minha irmã me falou dos perigos e complicações de uma gravidez fiquei ansiosa”, conta no relatório.

“A questão das crianças que têm crianças – e que morrem porque os seus corpos são demasiado imaturos para ter um bebé – é um escândalo global”, afirma, em comunicado, o director-executivo da Save The Children, Justin Forsyth. O responsável acrescenta que “esta tragédia não afecta apenas aquelas raparigas mas também as suas crianças” que têm 60% mais probabilidades de morrerem.

Ásia e África são os piores locais

Em média, diz o documento, em todo o mundo uma em cada cinco raparigas são mães adolescentes, ou seja, têm um filho com menos de 18 anos. A situação acontece sobretudo em países em desenvolvimento na Ásia, como Índia, Paquistão, e Bangladesh. Mas também é um problema em África, onde se destacam países como Nigéria, Guiné, Madagáscar, Mali, Níger e Serra Leoa.

O documento alerta, ainda, que duas gravidezes com menos de 24 meses de intervalo também representam um risco acrescido para as mães e bebés. “Permitir o acesso ao planeamento familiar de forma a que a mulheres possam adiar a concepção durante pelo menos três anos após o parto reduz o risco materno e do feto de complicações e pode salvar até 1,8 milhões de vidas todos os anos”, lê-se no relatório. Os autores adiantam também que 222 milhões de mulheres em todo o mundo que não querem ficar grávidas não têm acesso a formas de contracepção modernas.

A organização refere que tem tentado desenvolver um trabalho de sensibilização em vários países em desenvolvimento, no sentido de convencer as famílias a deixarem as filhas completar a escola antes de casar, como forma de adiar a maternidade que “pode ser uma sentença de morte”.

O documento surge numa altura em que em Julho um grupo de especialistas e líderes mundiais se vão reunir em Londres num encontro que será dedicado ao planeamento familiar e que é apoiado pelo Governo do Reino Unido e pela Fundação Bill e Melinda Gates.

Em Portugal, apesar do número de mães adolescentes ser elevado a situação tem vindo a melhorar. De acordo com dados da ONU de 2009, relativos a 2007, Portugal tem das mais altas taxas de fertilidade em adolescentes da Europa. Na tabela dos 27, Portugal surge em oitavo lugar, com uma taxa de fertilidade em adolescentes de 16,5. Em 2009, o número de nados vivos de mães com idades entre os 11 e os 19 foi o mais baixo desde finais da década de 70, mas mesmo assim ultrapassou os quatro mil, o que significa que, por dia, 12 adolescentes tiveram bebés. A média na zona euro é de 8,4.

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