Guimarães criou uma praça entre tanques de curtumes abandonados

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Feita de madeira, a praça vai ali ficar "enquanto fizer sentido" Manuel Roberto

Terreno que ficou sem uso depois da recuperação do antigo quarteirão industrial de Couros foi transformado em espaço comunitário

Um grupo de arquitectos italianos andou meses a falar com os moradores do antigo bairro industrial de Couros, em Guimarães, para lhes construir uma praça à medida. Foi com base na opinião da população que, nos últimos dias, criaram um novo espaço público, no que era um terreno vazio, entre tanques de curtumes. A iniciativa faz parte de um programa de regeneração urbana promovido pela Capital Europeia da Cultura, o Pop Up, que quer chamar a atenção para os espaços subaproveitados da cidade.

É no Largo da Cidade, em frente à Pousada de Juventude, que se localiza esta praça, feita sobre um terreno que tinha ficado vazio e sem uso depois da recuperação da zona de Couros. Várias estruturas de madeira ocupam agora essa área, criando uma zona de convívio para os vimaranenses e turistas. A construção está a cargo dos Esterni, um grupo de arquitectos baseado em Itália que tem feito intervenções deste tipo um pouco por toda a Europa.

Nos últimos meses, estes arquitectos contactaram com a população local para recolher opiniões sobre a forma que deviam dar à praça. "Houve alguma resistência inicial, mas a partir do momento em que as pessoas perceberam o que estávamos a fazer, essa desconfiança passou a entusiasmo", recorda Fernando Martins, que coordena o projecto na Guimarães 2012.

Das conversas com os vizinhos, surgiu a ideia de criar uma grande mesa, com bancos corridos, onde a população se pode encontrar. Há duas semanas, dezenas de vimaranenses juntaram-se ali para tomarem um pequeno-almoço comunitário. No sábado passado, o espaço acolheu também uma sardinhada de S. João e, para as próximas semanas, estão marcadas várias iniciativas como pequenos cursos de croché, ou workshops de construção para crianças, todos propostos por pessoas da cidade.

A cidade é "convidada a passar por Couros", diz Martins, e a nova praça pode ser usada por quem quiser, sejam pessoas individuais ou associações. "Um espaço torna-se público se o uso que se faz dele é público", sustenta o arquitecto que coordena o projecto. A praça foi construída em madeira, devido à versatilidade do material, mas apesar de parecer uma estrutura temporária a ideia é que se mantenha "enquanto tiver uso e fizer sentido".

Esta intervenção é o segundo momento da regeneração daquela zona, que preserva exemplos de arqueologia industrial, como tanques de curtumes. Mas que só é possível porque antes houve um trabalho de reabilitação urbana pura, que permitiu transformar, em poucos anos, o antigo bairro industrial num espaço dedicado à criatividade e ao ensino, com equipamentos como o Instituto do Design ou o futuro Centro de Ciência Viva. Agora, aposta-se "na via humana", segundo Fernando Martins, propondo uma reaproximação da cidade àquele espaço.

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