TAP: "Para analisar com seriedade tem de se conhecer as regras do jogo"
A colombiana Avianca, detida maioritariamente pelo empresário Germán Efromovich, é uma das interessadas na privatização da TAP, calendarizada para este ano. Na primeira entrevista à imprensa portuguesa, o milionário colombo-brasileiro assume estar atento à definição do modelo de privatização, que, tal como o PÚBLICO noticiou hoje, já está a ser definido pelos quatro assessores financeiros contratados pelo Governo, em encontros que já decorreram com uma comissão de administradores da companhia de aviação nacional.
Não sabemos as condições em que ela vai sair. Não tenho uma única pessoa na minha organização a trabalhar nesse projecto. Ninguém.
Excepto você...
Eu também não.
E sobre as conversações com Tomás Metello (presidente da companhia portuguesa Euroatlantic), pode falar?
Não estamos a discutir nenhum negócio específico. E se isso estivesse a acontecer eu iria abster-me de falar. Vocês querem que as pessoas digam o que querem ouvir e não querem aceitar a realidade como ela é.
E qual é essa realidade?
É uma só. Um empresário, um homem de negócios, está sempre a olhar o que está à sua volta. Agora, para analisar com seriedade, tem de se conhecer as regras do jogo. Nós estamos em vários negócios e estamos sempre analisando.
E quando conhecerem as regras do jogo em relação à TAP?Vamos analisar e aí vamos ver se estamos interessados. Vamos decidir se há interesse e pomos uma equipa a analisar o plano de negócios. Se as regras do jogo não satisfizerem, seja economicamente, seja ao nível da regulação, aí não vamos nem mexer no dossier. É tão simples quanto isto. Não há ciência, nem mistério. Vou dizer uma coisa e podem registar: 99% do que a imprensa escreveu é invenção e mentira.
Mas não é verdade que já contrataram uma empresa de consultoria para avaliar o mercado português?
Eu não preciso de contratar ninguém para avaliar o mercado da aviação. Ninguém tem profissionais mais bem qualificados do que a Avianca Taca para analisar o mercado. Um consultor para quê? Para dizer como vou fazer o meu negócio? Se ele fosse bom era meu concorrente.
Então desmente que falou com a consultora financeira 3anglecapital sobre a TAP?
O Vasco [Duarte Silva, presidente da 3anglecapital] é meu amigo há 50 anos. Vêem o passarinho voar e depois inventam histórias. Se fosse verdade, não teria problemas em dizê-lo. Não devo nada a ninguém.
Mas a TAP é um bom partido?
Não conheço a noiva. Ainda não a mostraram. No dia em que me mostrarem logo vejo se é feia ou bonitinha.
Pode perguntar ao seu amigo Tomás Metello.
Eu não sei se ele conhece a noiva. Aliás, não vou perguntar a um potencial concorrente se ele quer casar com a mesma mulher que eu.
Mas ele é concorrente?
Pode ser concorrente, pode ser aliado, pode não ser nada. Agora são vocês e o Governo que estão esquentando a história. Há dois anos que se fala da privatização da TAP e não se deve perder tempo com isso enquanto não se vir um negócio real, palpável.
A Avianca Brasil tem, ou não, necessidade de ganhar dimensão rapidamente?
A Avianca, como um todo, não está para conquistar mercado. Está para prestar um bom serviço e ter rentabilidade. A Avianca Brasil voa com quase 80% de ocupação e está a crescer no ritmo dela, sem entrar numa carnificina.
A aposta do grupo é crescer organicamente ou através de aquisições?
As aquisições são uma questão de oportunidade. Se surge uma oportunidade analisa-se. Às vezes é mais barato investir na própria empresa e ganhar mercado do que comprar mercado com pepino. Este negócio da aviação comercial é tão dinâmico que é preciso personalizá-lo como uma sanfona. Há que saber crescer, encolher, acomodar-se e reagir rapidamente.
Faz falta à Avianca Brasil ter negócio internacional?
Não faz falta, porque hoje fazemos tudo através dos hubs de El Salvador e Bogotá. Enquanto não tiver uma infra-estrutura melhor e slots bons isso não funciona. A aviação comercial hoje é uma parte importante do PIB e é vital para a sobrevivência de todos nós. E têm de ser criadas infra-estruturas. Acho que, neste momento, no Brasil não há mais espaço para viajar no longo curso.
Uma vantagem competitiva da TAP...
A vantagem vem de lá, Portugal, para cá. A TAP tem um negócio importante no Brasil e isso foi feito de uma forma muito inteligente pelo Fernando Pinto. A companhia não estaria nas condições que está se não fosse essa "movida", só que isso não faz dela uma companhia mais ou menos atractiva.
A jornalista viajou a convite da Star Alliance