Morreu Lesley Brown, a mãe do primeiro bebé-proveta

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Lesley Brown fotografada em 2008 com a filha Louise, o neto Cameron e o investigador Robert Edwards Foto: Bourn Hall/AFP

A notícia foi avançada agora pela família, que informou que Lesley Brown morreu no Hospital Bristol Royal Infirmary, acompanhada pela família, tendo o funeral sido na quarta-feira numa cerimónia privada. “A mãe era uma pessoa muito reservada, que acabou nas bocas do mundo por querer tanto uma família. Estamos todos a sentir muito a sua falta”, afirmou Louise Brown, citada pela BBC.

Lesley Brown, que vivia em Bristol, no Sul de Inglaterra, fez história no dia 25 de Julho de 1978 – um sábado especial para o casal Lesley e John Brown (que já morreu há cinco anos), mas também para muitos casais em todo o mundo, que estavam, até aí, impossibilitados de ter filhos naturalmente. Lesley conseguiu através da então inovadora técnica de fertilização in vitro ser mãe do primeiro bebé-proveta de sempre.

Lesley e John tentaram ter filhos durante nove anos, sempre sem sucesso, devido a um problema das trompas de Falópio de Lesley. A vontade de ter uma família fez com que nunca desistisse da ideia de ter filhos, pelo que, quando foram noticiados os primeiros passos na fertilização in vitro, a britânica contactou os investigadores, que aceitaram submetê-la ao tratamento experimental. Lesley não foi a primeira mulher a quem foram implantados óvulos fertilizados, mas foi a primeira a conseguir levar a gravidez a bom porto.

E, apesar de discreta, Lesley nunca conseguiu que a vida da sua família deixasse de ser seguida de perto. Todos queriam saber quem era o primeiro bebé-proveta do mundo. Em conferências internacionais, em entrevistas, em reportagens, a bebé loura, gordinha e extrovertida transformou-se numa criança activa, depois numa adolescente típica, que trabalhou numa cadeira de fast-food de Bristol e que, aos 18 anos, conseguiu realizar um sonho: trabalhar com crianças.

Lesley Brown só contou à filha que era ela o primeiro bebé-proveta do mundo aos quatro anos. Mas Louise não entendeu nada do que lhe estavam a dizer. Aos dez anos percebeu, de facto, como a tinha feito nascer - um procedimento que foi repetido quatro anos depois de Louise nascer e que deu origem a mais um caso de sucesso: Natalie Brown, a segunda filha do casal. Lesley e John deixam também cinco netos.

Trabalho começado na década de 1950

Foi ainda na década de 1950 que o investigador Robert Edwards percebeu que a fertilização in vitro poderia ser o caminho para o tratamento da infertilidade, trabalhando, desde aí, em experiências com óvulos e culturas de células. No entanto, percebeu que precisava de chegar aos óvulos de uma forma pouco invasiva. Em 1968, telefonou a um outro investigador, Patrick Steptoe, para saber como estava a correr o seu trabalho com a laparoscopia. Steptoe tinha desenvolvido uma técnica de cirurgia minimamente invasiva para recolher os ovócitos. Foi assim que se juntou a equipa que faria nascer, dez anos depois, o primeiro bebé-proveta do mundo.

Após 1978, Edwards e os seus colaboradores refinaram as técnicas necessárias e partilharam-nas com médicos do mundo inteiro. O investigador já foi “pai” de quatro milhões de bebés, muitos dos quais já são adultos e pais. Em Portugal, o primeiro bebé-proveta nasceu a 25 de Fevereiro de 1986. A descoberta valeu a Edwards, em 2010, o Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina.

Hoje este tipo de fertilização está comummente estabelecida e aceite, apesar de ter sofrido algumas actualizações, como a identificação dos óvulos ser agora feita com o recurso a ultra-sons. O método é seguro e eficaz, sendo que 20 a 30% das fertilizações dão lugar a um bebé.

Em reacção à morte de Lesley Brown, Mike Macamee, colaborador do centro de fertilização in vitro de Edwards, lamentou em seu nome a perda e descreveu Lesley como “uma devota mãe e avó, que pela sua bravura e determinação fez com que milhões de mulheres tivessem tido a oportunidade de se tornaram mães”.

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