Com os novos tablets a Microsoft aproxima-se da estratégia da Apple

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Os dois modelos apontam para segmentos distintos David McNew/Reuters

Na noite de segunda para terça-feira (hora de Lisboa), o CEO, Steve Ballmer, apresentou o Microsoft Surface, um tablet de marca própria, em que hardware e software são da responsabilidade da empresa – uma abordagem próxima do que faz a Apple e longe da forma de operar típica da Microsoft.

“Acreditamos que qualquer intersecção entre humanos e máquinas pode ser melhorada quando o hardware e o software são considerados em conjunto”, afirmou Steve Ballmer – é o género de afirmação que era muito comum ouvir-se do ex-CEO da Apple, Steve Jobs. Ballmer, contudo, teve o cuidado de dirigir uma palavra aos fabricantes parceiros, que estiveram completamente ausentes do evento.

Francisco Jerónimo, analista da IDC em Londres, nota ao PÚBLICO que o aparelho “podia ter sido anunciado com qualquer um dos parceiros, ou com vários” – o que já aconteceu noutras ocasiões, nomeadamente com os smartphones Windows Phone e com computadores. Porém, explica, “a Microsoft está a reposicionar a abordagem numa estratégia mais fechada”, acrescentando que, “sendo esse o caso, terá de comprar um fabricante que conheça e controle toda a cadeia”.

“Esta linha de produtos marca um ponto crucial na estratégia de produto da Microsoft”, observa por seu lado a analista da Forrester Sarah Rotman Epps, numa nota publicada online. “Mistura o modelo de hardware próprio da [consola] Xbox com o modelo de ecossistema do Windows. Coloca o enfoque no consumidor e não na empresa. E deixa a Microsoft a competir com a integração vertical da Apple”.

Também seguindo o caminho da Apple, a Microsoft terá uma loja de aplicações para o Windows 8. As aplicações que usem a nova interface do sistema (chamada Metro e semelhante à dos telemóveis) terão de ser obtidas a partir desta loja. A Windows Store vai vender aplicações para computadores e tablets, havendo uma loja separada para telemóveis.

O Surface também vem introduzir uma nova variável na relação da Microsoft com os parceiros – marcas como a Samsung e a Asus, que pagam à Microsoft licenças para usar o Windows nos seus computadores e que também têm em vista o lançamento de tablets com o novo Windows 8. “Há definitivamente um risco para a Microsoft ao competir cada vez mais com os seus clientes”, observou à agência Reuters Michael Silver, analista da Gartner.

O modelo profissional do Surface, aliás, só será posto à venda três meses depois do lançamento da outra versão do aparelho, no que já foi interpretado como uma janela para dar espaço aos fabricantes parceiros.

Aposta dupla

O Microsoft Surface surge em dois modelos para segmentos diferentes. Um dos modelos é mais leve e fino e está equipado com os processadores ARM que são usados em equipamentos móveis. Foi concebido para concorrer directamente com o iPad e com os tablets Android.


O outro – com um ecrã de melhor qualidade, processador Intel (usado em computadores), mais espaço de armazenamento e com o Windows 8 Pro – destina-se a concorrer com os chamados ultrabooks, computadores portáteis de peso e dimensões reduzidas.

As especificações técnicas dos dois modelos Surface ainda não são inteiramente conhecidas. Por exemplo, a velocidade dos processadores, a memória RAM e as características das câmaras não foram reveladas. Em relação ao iPad, o ecrã, com 10,6 polegadas, é ligeiramente maior, mas apresenta uma resolução inferior ao apregoado ecrã "retina" da Apple, com 264 pixeis por polegada. Os aparelhos da Microsoft têm 139 e 208 pixeis por polegada.

Os preços não foram anunciados, mas, de acordo com a empresa, o primeiro modelo vai competir no patamar de preços dos tablets e o segundo vai alinhar pelo preço dos ultrabooks – um indicador de que os valores poderão oscilar entre os 500 e os 1000 euros. Inicialmente, o Surface estará à venda apenas nos EUA e apenas nas lojas Microsoft e numa loja online.

“A Microsoft está a tentar diferenciar-se do iPad e dos tablets Android ao tentar combinar o melhor dos ultrabooks com o melhor dos tablets”, avalia Francisco Jerónimo.

Ambos os modelos do Surface podem ser ligados a uma capa protectora que se desdobra e funciona como teclado físico e têm um suporte integrado que os coloca na posição de um portátil. Os dois permitem o uso de versões do Office, o conhecido pacote de aplicações da Microsoft que integra o Word e o Excel, que não existem para iPad nem para Android.

“O teclado é uma óptima ideia, uma vez que essa é umas das principais falhas dos tablets quando o objectivo é a criação de conteúdo”, observa Jerónimo (algumas marcas, como a Asus, já têm equipamentos deste género aos quais é possível acoplar teclados físicos). “Não nos podemos esquecer que o teclado virtual ocupa metade do ecrã do iPad, o que lhe tira muita usabilidade. Por outro lado, Office vai ser crucial para atrair o segmento profissional”.

Sarah Rotman Epps, da Forrester, antecipa, contudo, um problema com esta aposta dupla da Microsoft. “Vender tablets com x86 [a arquitectura dos processadores Intel] nos mesmos canais de retalho dos tablets com Windows RT vai confundir os consumidores”.

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