Quem é o futuro rei da Arábia Saudita?

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Salman bin Abdulaziz “é um conservador com ‘c’ pequeno”,

O príncipe Salman bin Abdulaziz, que ascendeu a príncipe herdeiro da Arábia Saudita após a morte do irmão Nayef, “é um conservador com ‘c’ pequeno”, descreve o jornalista britânico Robert Lacey, autor de Inside the Kingdom, obra de referência sobre o maior fornecedor mundial de petróleo. “Iludem-se os que pensam que ele será mais liberal do que o predecessor.”

“Um homem alto, bem-parecido, sério, trabalhador e muito respeitado pela família, Salman é, de todos os filhos do fundador do reino Abdul Aziz [ou Ibn Saud], o que mais se parece, em fisionomia, com o seu pai”, observou Lacey, numa entrevista ao PÚBLICO por e-mail. “Em 40 anos, ele transformou Riade de um dormitório no deserto numa metrópole moderna de quase cinco milhões de habitantes, uma capital de classe mundial. E conseguiu isto com eficácia quase isenta de corrupção e ética persistente.”

Conhecedor do país onde viveu vários anos para recolher a informação contida no seu livro com o subtítulo de Kings, Clerics, Modernists, and the Struggle for Saudi Arabia, Lacey recorda que os habitantes de Riade “acertavam os seus relógios pelo ruído dos motores da coluna automóvel do governador a caminho do seu gabinete, às 8h00 da manhã”. Depois da morte dos irmãos mais velhos, há uma década, Salman “ter-se-á tornado mais religioso”. Há cerca de um ano, foi operado à coluna, mas “caminha com mais altivez do que o rei” e, por isso, deverá chegar ao trono quando Abdulaziz, 89 anos, sair de cena. Nayef, cujo óbito numa clínica em Genebra foi anunciado no sábado, foi o segundo príncipe herdeiro a morrer em menos de um ano; o anterior, Sultan, não sobreviveu a múltiplas doenças, em Outubro de 2011.

Inquirido sobre o que vai distinguir Salman, também ministro da Defesa, de Nayef, o ministro do Interior que reforçou os serviços secretos para travar dissidências inspiradas pela Primavera Árabe; ordenou uma intervenção militar no Bahrein, para esmagar um movimento pró-democracia; e lançou uma ofensiva contra a Al-Qaeda na Arábia Saudita e no Iémen, Lacey respondeu: “Não diria que ele é mais próximo do rei [com fama de reformista]. Abdullah e Nayef tinham uma estreita relação de trabalho liberal-conservadora. Tal como Nayef, também Salman tem a sua base de poder. Ele partilha a missão dos mais importantes príncipes Al-Saud, a de modernizar o reino mantendo as tradições religiosas, os valores, o prestígio e o poder. Podemos olhar para ele como um pragmático, com filhos cultos e bem-sucedidos.”

Salman, concluiu Lacey, “não é uma escolha dos seus irmãos e meios-irmãos, mas sim do rei – uma escolha que toda a família apoia. Há quem pense que o país será mais liberal agora que Salman sucede a Nayef, mas eu duvido. Nayef era mais liberal do que supunha, e a sua reputação de conservador permitiu que ele aplicasse mudanças aceites pela sua base de poder conservadora. Ele teria conseguido, por exemplo, autorização para as mulheres obterem o direito de conduzir automóveis, o que Abdullah e Salman terão mais dificuldade em impor.”

Quanto ao impacto nas políticas regionais, Robert Lacey, está convencido de que Salman vai continuar a apoiar os sunitas em Damasco (a maioria da população) contra o regime alauita dos Assad, “devido aos laços de Abdullah com os Shammar”, a maior tribo beduína da Arábia Saudita também presente na Síria, no Iémen e na Jordânia. Dará igualmente continuidade aos esforços do reino “para substituir o Irão como patrono e financiador da Síria e do Líbano”.

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