DB Schenker realiza comboios de mercadorias directos entre Portugal e a Alemanha
Mesmo sem linha em bitola europeia, já existe uma ligação regular entre Portugal e Braunschweig, no coração da Alemanha
A DB Schenker, uma afiliada da DB (caminhos-de-ferro públicos alemães) para a área da logística, realiza desde Fevereiro um comboio semanal entre Portugal e o centro-norte da Alemanha, que passará a dois a partir deste mês. Trata-se da primeira ligação ferroviária regular e directa (apesar de um transbordo em Irún) entre os dois países.
O serviço arrancou com uma composição de 25 caixas móveis (que podem ser transportadas em vagão ferroviário ou em camião), número que subiu logo nas primeiras semanas para 30, sobretudo devido à forte procura dos exportadores nacionais.
Jorge Carvalho, director da Schenker SA em Portugal, diz que a taxa de ocupação tem sido de 100% na exportação, não conseguindo a empresa responder a todos os pedidos de transporte das empresas portuguesas que se lhe dirigem. Já na importação, o comboio em sentido contrário regressa apenas com 50% da sua capacidade ocupada.
"Esse tem sido o nosso drama, porque há um ano, quando concebemos este serviço, não esperávamos que, devido à crise, a quebra nas importações portuguesas fosse tão grande", disse ao PÚBLICO. É, aliás, por esse motivo que a operação está a dar prejuízo, mas a solução passa por ganhar escala e daí o reforço da oferta com mais um comboio semanal que se estima venha a ter uma taxa de ocupação também de 100% na exportação.
A operação consiste no envio, às sextas-feiras, de um comboio com saída da Pampilhosa (onde se juntam caixas móveis vindas da Bobadela e de Leixões) para Braunschweig, perto de Hanôver, de onde parte a composição em sentido contrário.
No trajecto português até à fronteira de Vilar Formoso, a tracção é fornecida pela CP Carga, com a qual Jorge Carvalho diz ter uma relação "óptima". A travessia de Espanha está a cargo da Renfe, mas a partir da fronteira francesa já é uma locomotiva alemã que assegura a tracção até ao destino final.
Devido à diferença de bitola entre a Península Ibérica e o resto da Europa, em Irún (fronteira hispano-francesa) as caixas móveis são transladadas para outros vagões, numa operação que demora oito horas e que é realizada ao sábado. Outra solução, que em breve vai ser usada, é a mudança de bogies (rodados) dos vagões por forma a adaptá-los a outra bitola.
Jorge Carvalho diz que isto encarece, obviamente, a operação, sendo desejável que houvesse uniformidade nas bitolas, mas que tal não é relevante para o bom funcionamento deste serviço, o qual tem ainda muito para crescer.
Os produtos transportados são muito heterogéneos, destacando-se, no entanto, componentes para a indústria automóvel, maquinaria, papel e cortiça. Exclui-se, naturalmente, o transporte de granéis sólidos e líquidos.
Entre alguns dos seus principais clientes nesta rota, a DB Schenker conta com a Wolkswagen, Continental, Corticeira Amorim e Portucel.
A empresa conta fazer um evento para lançar o seu segundo comboio por forma a captar mais clientes, sobretudo importadores, para poder rentabilizar a composição no sentido Alemanha-Portugal.
O custo de uma caixa móvel é superior a 2000 euros, dependendo do destino final, uma vez que a empresa não se limita ao transporte ferroviário, assegurando a recepção e a entrega da mercadoria à porta do cliente. Um preço que Jorge Carvalho assegura ser muito idêntico ao praticado pela rodovia.
Um dos problemas na captação de novos clientes é que a oferta ferroviária, sendo muito rígida, obriga a uma grande disciplina por parte das empresas portuguesas para terem a carga pronta a horas. O rodoviário é mais permissivo, pois é fácil adiar a partida de um camião.
A Schenker SA conta com 380 trabalhadores e tem instalações em Lisboa, Porto, Covilhã e Faro. Em 2011 facturou 90 milhões de euros e teve resultados líquidos de 1,5 milhões. No âmbito da sua actividade logística, a facturação relacionada com a operação ferroviária é ainda residual. A nível mundial a Schenker está presente em 130 países e conta com 57.000 trabalhadores.