Mario Gomez estragou festa de Klose e noite de estreia de Portugal
Chegou a prometer a entrada da selecção no Euro 2012, mas a Alemanha saltou mais alto. Marcou no momento certo e contou com dois aliados inesperados: os postes e a falta de inspiração de Varela
Aquele remate de Pepe à trave, mesmo em cima do intervalo, não prenunciava nada de bom. Um azar daquele tamanho, normalmente, faz ricochete. E Portugal acabaria por ser abatido por uma bala perdida, numa altura em que tentava mostrar à Alemanha que tinha razão em redobrar os cuidados com as transições ofensivas. Mario Gomez, de cabeça, ofereceu aos germânicos a 12.ª vitória consecutiva em jogos oficiais (1-0) e certificou-se de que o adversário continuava a não saber o que é pontuar na Ucrânia.
A Alemanha, que fez alinhar o onze mais jovem de sempre na fase final de um Europeu (média de 25 anos e 120 dias), entrou em campo com Hummels no lugar de Mertesacker e com uma toada cautelosa, expectante, a tentar perceber quão pressionante ia ser o adversário. Portugal não quis tomar a iniciativa de romper a monotonia e também se foi contentando em manter os germânicos longe da baliza. Essa era a prioridade. O resto, logo se veria.
A dupla de centrais funcionava em harmonia, Veloso, Meireles e Moutinho chegavam para as encomendas, mas cedo se percebeu que havia uma diferença abissal nas laterais. O flanco esquerdo português era tão eficaz como o direito a defender, mas bem mais destemido a atacar. Fábio Coentrão, que continua a actuar nos grandes palcos com a naturalidade com que disputará um jogo entre amigos, dava o mote. Aos 3", deixou três adversários pregados ao relvado e só pecou pela imprecisão do último passe.
Era por ali que poderia adivinhar-se o perigo para a baliza de Neuer. E foi por ali que Ronaldo arrancou aos 17": depois dançou à frente de Boateng e cruzou tenso para um dos 11 pontapés de canto de que a selecção dispôs (a Alemanha somou apenas dois). E foi justamente na sequência de um canto que nasceu o lance de todos os azares para Pepe. O central recebeu de forma perfeita na área contrária e rematou em jeito, mas a bola decidiu andar entre a barra e a linha de golo.
Antes, a Alemanha tinha conseguido um remate tímido de Podolski, ele que, aos 27 anos, tem agora mais oito internacionalizações do que Rui Patrício, Pepe, Fábio Coentrão e João Pereira juntos. E uma tentativa frustrada de Müller, que acertou mal na bola quando praticamente só tinha Rui Patrício pela frente, depois de um bom lance de ataque pelo flanco esquerdo.
Jogo aéreo decisivo
Das cabines, regressou uma Alemanha novamente reservada, mas que sentiu mais problemas porque Portugal foi mais afoito. Primeiro foi Nani a tentar sacudir o jogo pela direita, depois João Moutinho a rasgar horizontes com passes de fazer inveja a Mesut Özil. Aos 64", Ronaldo poderia ter dado melhor seguimento a um deles se se tivesse apercebido da chegada matreira de Boateng.
Foi dessa forma, discreta, que Mario Gomez conseguiu resolver o jogo nove minutos mais tarde. A bola circulava no meio-campo germânico de forma aparentemente inofensiva, até que Khedira arriscou um cruzamento: o goleador do Bayern aproveitou a nesga de espaço que Pepe lhe deu e libertou-se nas costas para cabecear para o poste mais distante (dos últimos seis golos alemães em Europeus, foi o quarto apontado de cabeça). Na linha lateral, Miroslav Klose, já sem fato de treino e em dia de aniversário (o 34.º), não poderia ter recebido pior prenda. Ficava adiada a entrada em campo.
Portugal acusou o toque, sim, mas no bom sentido. Era altura de fazer alguma coisa de mais concreto. Nélson Oliveira já substituíra Postiga mas as faixas continuavam demasiado desocupadas. Entra Varela, sai Meireles e Nani roda para o flanco contrário, subindo Ronaldo para mais perto de Nélson. Se juntarmos Coentrão aos dois últimos, temos os ingredientes do lance que deixou de cabelos em pé os poucos adeptos portugueses presentes na Arena Lviv. O lateral esquerdo abriu para Nélson, que segurou a bola e esperou por um companheiro. Apareceu Varela, sozinho, na cara de Neuer... E o resto é história.
Outra vez derrotada na Ucrânia (onde tinha perdido a 5 de Outubro de 1996, por 2-1), a selecção não tem vida fácil no Euro 2012, mas isso não é propriamente uma surpresa. Assim como não o é o facto de a Alemanha encarar o segundo jogo do torneio com alguma folga frente a uma Holanda de cabeça baixa. Afinal de contas, desde o início da fase de qualificação que a equipa de Joachim Löw não sabe o que é estar em desvantagem no marcador.