Um sábado normal
Anteontem, quinta-feira, tivémos uma consulta com a sapientíssima e esfuziante Maria Begoña Cattoni, a neuro-cirurgiã e oncologista que dirige o Centro Gamma Knife do Hospital Cuf Infante Santo. É um génio e é uma querida. Não há nada que mais conforte do que a sabedoria. Vai ser ela, com a equipa dela, a "rádio-naifar" o que resta do tumor cerebral da Maria João ou outros tumores pequenos que entretanto (Deus queira que não) tenham aparecido. Ela faz lembrar, de repente, ideias de Hipócrates: o primeiro dever é não fazer mal. O segundo é, às vezes, raramente, curar. O terceiro, quando se pode, é aliviar a dor. O quarto, que se tem sempre de cumprir, é confortar.
Depois de amanhã, às nove e meia da manhã, temos uma consulta com a equipa-maravilha de neurocirurgiões do Hospital de Santa Maria, chefiada pelo Professor João Lobo Antunes (que, contra todos os prognósticos habituais, acertou, exactamente, na sorte que tivemos).
Estamos em boas mãos. Como está qualquer cidadão imprevidente ou optimista que acredita, com razão, no Serviço Nacional de Saúde. Funciona e tem de continuar a funcionar. Graças, também, aos hospitais capitalistas com que colabora.
É uma lição de social-democracia liberal. Para mim e para a Maria João, entre quinta e segunda-feira, vamos ter o primeiro fim-de-semana normal há muito tempo. A começar por este sábado, que é um sábado sem médicos nem idas a Lisboa. Que sabe a um futuro roubado. Ainda mais apetecido.