Filha de Feteira denuncia “desvios” de Rosalina Ribeiro e Duarte Lima

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Duarte Lima pode ser julgado por um tribunal de júri no Brasil Foto: PÚBLICO

O aparecimento de Olímpia Feteira, a filha do milionário Lúcio Thomé Feteira, foi a surpresa de quarta-feira no Tribunal de Saquarema, durante as primeiras audiências do processo contra Duarte Lima. E o seu testemunho centrou-se nos desvios de milhões de euros que Rosalina Ribeiro, companheira de Feteira, terá feito, e de que Duarte Lima depois terá beneficiado. “A colheita da prova está corroborando todas as provas no auto”, disse ao PÚBLICO a promotora de Justiça Luciana Soares. Ou seja, está “reforçada a culpabilidade do réu”, considerou esta magistrada.

O ex-deputado do PSD é acusado pela justiça brasileira de ter morto Rosalina no dia 7 de Dezembro de 2009, nesta região localizada a duas horas do Rio de Janeiro.

Olímpia “foi arrolada como testemunha, mas não tinha sido intimada para hoje [quarta-feira], veio espontaneamente”, confirmou ao PÚBLICO o seu advogado carioca, Paulo Freitas. “Vim anteontem [terça-feira] de Lisboa”, acrescentou Olímpia, enquanto fumava um cigarro à porta do edifício, sempre guardada por dois seguranças, além do advogado e de uma mulher. Veio de propósito para estar aqui hoje? “Vim e depois aproveitarei porque tenho outros assuntos”, resumiu.

Inicialmente o tribunal previa apenas que fossem ouvidas na quarta-feira três testemunhas de acusação: Armando Carvalho (o enteado de Rosalina), e os dois polícias civis que conduziram a investigação a partir da qual a justiça decidiu acusar o ex-parlamentar português: Rogério Lima e Aurílio Nascimento. À hora marcada, 13h do Rio de Janeiro (17h em Lisboa), mais duas testemunhas de defesa apareciam na lista, dois polícias militares, mas não compareceram à chamada. O advogado Saulo Morais, do Rio de Janeiro, assegurava a defesa de Duarte Lima (que tem outro advogado em Brasília, João C. Ribeiro Filho).

E então apareceu Olímpia, com a sua comitiva e arrastando uma mala de rodinhas. O juiz ouviu-a depois dos dois polícias, eram já 17h locais, 21h em Lisboa. Interrogada pela promotora de Justiça, Olímpia Feteira começou por informar que Rosalina entrara com um pedido no Brasil de união estável, relativo à sua relação com Feteira depois da morte do milionário, em 2000, mas o pedido foi rejeitado. Depois concentrou-se nos desvios de dinheiro, acusando Rosalina de se ter “apoderado de quantias inteiras” e de ter falsificado a assinatura do seu pai. No momento da morte de Rosalina, Olímpia mantinha com ela uma disputa por causa da herança de Feteira. Chegou, por isso, a ser apontada como uma possível suspeita, mas a investigação da polícia brasileira apontou indícios noutra direcção, a de Duarte Lima.

“Ela transferiu de contas da Suíça em nome de Lúcio Thomé Feteira para contas dela, de maneira irregular”, disse Olímpia. “E de imediato passou para o réu.” Ou seja, Duarte Lima. Na televisão portuguesa, lembra Olímpia, o ex-deputado afirmou que aquele dinheiro era relativo a honorários. “O que é falso”, afirmou Olímpia. A filha de Feteira garantiu ainda que o advogado de Rosalina era Valentim Rodrigues e não Duarte Lima.

Viagem para Portugal

Quando a promotora lhe perguntou se Rosalina podia ter agido sozinha no desvio de dinheiro, Olímpia declarou que não: “Foi nitidamente acompanhada no desvio. Foram vultuosos valores em países estrangeiros de que ela não falava nenhuma língua. Só ajudada.”

Quando foi morta, Rosalina tinha viagem marcada para Portugal, justamente para responder por estas acusações de desvios que Olímpia fizera. A filha de Feteira pediu um inquérito contra Rosalina, que expirou com o seu homicídio. “Foi quando passámos a queixa para o Duarte Lima por ter sido ele o beneficiário daquele dinheiro todo sem explicação.” Segundo Olímpia, de um montante de 8,9 milhões de euros, Rosalina passou 5,2 milhões para Duarte Lima numa série de cinco depósitos entre Março e Maio de 2001.

Depois da promotora de justiça terminar, o advogado de Duarte Lima interrogou Olímpia, concentrando-se, como fizera com as anteriores testemunhas, em perguntas sobre Arlindo Guedes, arrendatário de uma fazenda nesta região que pertenceu a Feteira e faz parte da disputa da herança. Arlindo explorava minério nos terrenos da fazenda. Toda a estratégia do defensor de Lima assentou em tentar desviar as atenções do seu cliente e concentrá-las nas intenções de Arlindo quanto à venda da fazenda. Olímpia Feteira rebateu: “O senhor Arlindo pertence à mineração Santa Joana, não tem nada a ver com a venda.”

Nos seus testemunhos, os dois polícias civis que fizeram a investigação da qual parte a acusação contra Duarte Lima detalharam as informações já conhecidas. O comissário Aurílio Nascimento sublinhou “várias contradições” no testemunho de Lima, como ele dizer que não conhecia esta região, mas os radares que multaram o seu carro alugado provarem que esteve no local do crime na véspera. A polícia demorou mais de meio ano para localizar o carro, porque Lima disse sempre que não se lembrava que empresa usara e que pagara com dinheiro, o que se veio a verificar falso.

Ouvidas quatro testemunhas de acusação na quarta-feira, o juiz marcou nova audiência para 5 de Setembro, altura em que serão ouvidas seis testemunhas de defesa. Depois de as ouvir, o juiz decidirá se encerra o caso ou se há matéria para levar Duarte Lima a julgamento em tribunal de júri.

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