Depois de em 2011 o prémio máximo do Festival de Cannes ter sido entregue a A Árvore da Vida, de Terrence Malick, o júri 2012, sob a batuta do realizador italiano Nanni Moretti, premiou um filme que acompanha os últimos meses de um casal idoso interpretado por Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant.
Amour, de Michael Haneke, era o filme favorito da maior parte da imprensa presente no Festival de Cannes 2012, edição que muitos dizem ter sido a melhor em muitos anos. Nanni Moretti, presidente do júri, podia perfeitamente assestar os holofotes noutro filme.
Na volta, Amour foi o vencedor da cerimónia de encerramento que teve lugar ao fim da tarde de domingo sob chuva torrencial em Cannes, valendo ao realizador austríaco a sua segunda Palma de Ouro após O Laço Branco em 2009.
O júri fez questão de assinalar, ao entregar o prémio, o trabalho fundamental dos seus actores, Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant, dois veteranos do cinema francês convocados para interpretar um casal idoso confrontado com a doença terminal da esposa. (Trintignant aceitou interromper o seu “auto-exílio” dos écrãs para entrar no filme, e Haneke disse que se ele tivesse recusado o filme não se faria.)
Mesmo que Amour fosse um vencedor “anunciado”, o restante palmarés trouxe confirmações e surpresas. Confirmou o dinamarquês Mads Mikkelsen, que já foi vilão de James Bond (em Casino Royale), favorito para melhor actor em The Hunt de Thomas Vinterberg.
O novo filme do romeno Cristian Mungiu (Palma de Ouro por 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias), no geral bem recebido, foi o único filme a “repetir” no palmarés, com os prémios de melhor argumento e melhor actriz, este entregue ex-aequo a Cosmina Stratan e Cristina Flutur.
E The Angel's Share, comédia do veterano inglês Ken Loach (Palma de Ouro por Brisa de Mudança) sobre desempregados de Edimburgo e uma golpada com whiskies, gerou bastante entusiasmo na Croisette. O júri de Moretti deu-lhe o Prémio do Júri com Loach a enviar nos agradecimentos os seus votos de solidariedade para com os resistentes europeus à austeridade económica.
O júri surpreendeu, contudo, ao dar o Grande Prémio – o segundo mais importante do certame – a Reality, onde o italiano Matteo Garrone, realizador de Gomorra, lança um olhar sobre a cultura dos reality-shows televisivos. Reality foi um dos filmes menos unânimes da competição, tal como Post Tenebras Lux do mexicano Carlos Reygadas, que recebeu o prémio de realização.
Reygadas, ao receber o prémio, não resistiu ironicamente a agradecer à imprensa que “tanto o tinha apoiado”, e Nanni Moretti, na conferência de imprensa após a cerimónia de encerramento, confessou que esse fora um de três filmes que dividiram abertamente o júri. Dos três, foi o único a entrar no palmarés: os outros dois, Paradise: Love, do austríaco Ulrich Seidl, e Holy Motors, o regresso do enfant terrible francês Léos Carax, ficaram de fora. Este último foi o evidente “caso” do festival, “o” filme de que toda a gente falava entre duas projecções, o que justificou alguma indignação junto dos seus muitos apoiantes pela sua ausência do palmarés.
O palmarés da 65ª edição do festival completa-se com a Câmara de Ouro, prémio atribuído ao melhor primeiro filme no conjunto das secções competitivas, ao americano Beasts of the Southern Wild de Benh Zeitlin, já vencedor de Sundance 2012. A Palma de Ouro da Curta-Metragem coube a Sessiz-be Deng, do turco Rezan Yesilbas.
Nas secções paralelas, foi a América Latina que saiu vitoriosa: a Quinzena dos Realizadores entregou o seu prémio principal a No, do chileno Pablo Larraín, e Un Certain Regard premiou Después de Lucía, do mexicano Michel Franco.
Palma de Ouro: Amour, de Michael Haneke
Grande Prémio do Júri: Reality, de Matteo Garrone
Prémio do Júri: The Angel's Share, de Ken Loach
Prémio de Realização: Carlos Reygadas, Post Tenebras Lux
Prémio de Interpretação Masculina: Mads Mikkelsen, The Hunt
Prémio de Interpretação Feminina: Cristina Flutur e Cosmina Stratan, Beyond the Hills
Prémio de Argumento: Beyond the Hills, de Cristian Mungiu
Câmara de Ouro (Melhor Primeiro Filme): Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin
Quinzena dos Realizadores: No, de Pablo Larraín
Un Certain Regard: Después de Lucía, de Michel Franco
Notícia actualizada às 20H22