Por que leio a "Waribashi"?

Revista dedicada à cultura clássica e moderna japonesa, online e grátis, fruto da colaboração de leitores e voluntários, este projecto espelha a recrudescência do "japonismo" em Portugal

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Embora fosse sucinta e "en passant", a referência à revista "Waribashi" presente na coluna Ciberescritas que Isabel Coutinho consagrou à mangaka Mari Yamasaki suscitou-me um certo regozijo. Aquele tipo de contentamento para com aquilo ou aqueles a que nos afeiçoamos e que, sendo destilado de qualquer interesse ou afinidade, se revela ser, de todos os sentimentos, o mais puro.

Há cerca de três anos que leio a "Waribashi". Revista dedicada à divulgação da cultura clássica e moderna japonesa, online e grátis, fruto da colaboração de leitores e voluntários, este projecto — a par de outros tais como o Clubotaku ou o clube de literatura japonesa Bungaku! — espelha, de certo modo, a recrudescência e dinamismo do "japonismo" em Portugal.

Se bem que a "Waribashi" gravita essencialmente em torno da cultura pop nipónica, não deixam de ser nítidos, por parte da redacção, a vontade e o cuidado de abordar temáticas oriundas de domínios ditos "eruditos" — sem contudo redundar nos clichés: "haiku", "ukiyo-e", "chanoyu", "ikebana" e afins.

É assim possível encontrar nas imediações de uma reportagem acerca de um evento de "cosplay" um artigo dedicado à Arte Déco japonesa, ou ao verso de um artigo dedicado à manga Nodame Cantabile outro, agora, ao cineasta Koji Wakamatsu. Daí resulta, dessa justaposição de temas tão contrastantes quanto especificamente japoneses, dessa intertextualidade atonal e atómica, um choque, um efeito de estranhamento que, a meu ver, ilustra de sobremaneira o Japão contemporâneo: um mosaico caleidoscópico de discursos emanando, entre outros, da waka, do buto ou do universo "cyberpunk", e isso em constante fusão — o estado da complexidade: o caos: Tokyo.

Porém, a minha empatia pela "Waribashi" não é, por assim dizer, propriamente pragmática. Se para Isabel Coutinho a descoberta desta revista deriva do desejo de averiguar e compreender o fenómeno "otaku", a minha descoberta, essa, bem pelo contrário, é consequência directa de uma paixão — paixão que, aliás, devo reconhecê-lo, fizera com que antes mesmo de ter lido sequer algum dos números publicados me afeiçoasse imediata e incondicionalmente por ela. Pois, bastara-me saber, tão-só, que ela tinha sido concebida no fascínio, na paixão pelo Japão, do meu Japão.

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