Hard Ass. O rastilho do kuduro está aceso

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ANA GILBERT

Ano e meio depois, as sessões Hard Ass, da editora Enchufada, tem direito a festa, hoje no Lux, e a compilação. J-Wow explica.

Há ano e meio, quando a editora e produtora portuguesa Enchufada iniciou as noites Hard Ass no Lux, em Lisboa, e o lançamento de uma série de registos à volta da mesma máxima (as Hard Ass Sessions), podia ler-se no comunicado enviado à imprensa que só "falta[va] acender um fósforo."

Com essa frase, a Enchufada, a estrutura que acolhe os Buraka Som Sistema, promovia a ideia de que estavam reunidas todas as condições para que Lisboa pudesse ter uma noite regular à volta da "cultura bass", ou seja, das diferentes músicas, do kuduro ao dubstep, que constituem uma parte considerável do complexo mosaico actual da música de dança globalizada. Bastava apenas acender a mecha para que isso acontecesse.

Pois bem, ela foi acesa, e hoje a Enchufada volta a incendiar o Lux com a festa de lançamento - em formato CD e digital - da compilação Hard Ass Sessions, que inclui parte dos lançamentos efectuados ao longo deste tempo. Quem for logo à noite ao Lux pode receber em retorno um CD gratuito. Segunda-feira será o lançamento para todo o mundo.

Para acender a pista de dança, hoje, estão convocados Marfox + DJ Nervoso, Boogaloo, Congorock e J-Wow, ou seja João Barbosa, dos Buraka Som Sistema, com quem falámos, sobre a compilação e as noites Hard Ass.

A compilação inclui 22 temas, todos eles embebidos no frenesim dançante, inspirado no kuduro, mas indo muito mais além, sugerindo novas adaptações e contaminações. "A ideia desde o início era essa, tal como acontece nos Buraka Som Sistema", reflecte João Barbosa. "Ou seja, endereçar uma série de convites a produtores de quem gostamos, para estes criarem qualquer coisa de original a partir do conceito inicial, inspirado vagamente no kuduro, mas que depois poderia ser recriado", continua.

Os convites foram endereçados a músicos e produtores internacionais, alguns já conhecidos, mas a maior parte deles figuras emergentes em vias de afirmação global. Entre eles encontramos nomes como Douster, Seiji, Canblaster, Mele, Brenmar, Savage Skulls, Metazoa ou Nic Sarno. "Quase todas as pessoas que abordámos inicialmente aceitaram o convite", conta João Barbosa, "mas também optámos por ser realistas, não perdendo muito tempo a abordar músicos com menor disponibilidade. No final, o que é mais engraçado é receber os temas e perceber como cada um resolveu o desafio que lhe endereçámos." O primeiro tema que receberam foi Mana wasa de Nic Sarno, um dos mais surpreendentes do lote para Barbosa, com alusões rítmicas tribalistas e um pequeno excerto vocal retirado de um qualquer disco obscuro, de origem misteriosa.

A "cultura bass"é uma festa

Festa desta noite à parte, vai decorrer uma pequena digressão europeia à volta do lançamento da colectânea, com datas marcadas para Londres, Barcelona, Paris, Bruxelas ou Budapeste, integrando, para além de J-Wow, alguns dos participantes internacionais na compilação. Muitos deles passaram, ao longo do último ano e meio por Lisboa. Às Hard Ass Sessions já compareceram nomes como Spoek Mathambo, mas acima de tudo tem sido dada primazia a figuras que ainda não são muito conhecidas.

"Interessa-nos criar qualquer tipo de emoção com coisas que ainda estão numa fase embrionária. É como plantar sementes. A ideia desde o início foi sempre apostar em gente que está a começar, como o inglês Mele, um miúdo que tinha acabado de fazer 18 anos quando foi ao Lux e que, de repente, estava ali a conectar-se de forma brutal com 800 pessoas."

Mas independentemente dos nomes, o que interessava à Enchufada era criar um clima festivo e com características próprias, assente nas diferentes linguagens da "cultura bass", que pudesse criar fidelidade. "Nas últimas cinco ou seis sessões já sentimos que isso aconteceu, ou seja, independentemente dos nomes, as pessoas vêm pela experiência e pelo conceito da noite, que acaba por ter um ambiente muito próprio, com pessoas de cara pintada, confetti, etc." E também pela música que, apesar do sucesso dos Buraka, continua a não se ouvir muito por aí.

Um facto que causa alguma estranheza e que contribui para que a editora acabe por não apostar muito em projectos que possam ter pontos de contacto com os Buraka Som Sistema. Não é porque não queira. É porque eles são quase inexistentes. "Gostávamos que isso acontecesse, e de agarrar em projectos próximos dos Buraka, mas não ouvimos quase nada por aí que fizesse sentido." Talvez por isso, a opção, ao longo dos anos, tem sido diversificar, sem perder a veia exótica, o "lado meio tropical", diz João Barbosa, que acaba por unir alguns dos projectos que estão ou estiveram ligados à Enchufada, como Diamond Bass, Roulet, Orelha Negra ou PAUS.

O último álbum dos Buraka, Komba, está a ser mostrado ao vivo e este vai ser mais um Verão quente, com datas marcadas para os mais importantes festivais da Europa. "As pessoas estão a conectar-se com o disco e respondem aos temas nos concertos, em particular com o Hangover, que superou todas as expectativas" declara João Barbosa, adiantando que os próximos três meses vão ser intensos, com os concertos e as sessões DJ como J-Wow, na operação Hard Ass. A maratona começa já hoje à noite.

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