Jazz por este país acima
Contrariando o ciclo económico do país, o JACC dá continuidade ao Jazz ao Centro e lança a primeira edição do ambicioso Xjazz
É em 2003, no âmbito da Coimbra - Capital Nacional da Cultura e associado às primeiras edições dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, que nasce o Jazz Ao Centro Clube (JACC), presidido por Pedro Rocha Santos. Quase 10 anos depois, o balanço é largamente positivo, destacando-se uma actividade que extravasou em muito as fronteiras da cidade, alargando-se a todo o país através da edição da revista Jazz.pt, ainda hoje a única dedicada ao jazz no nosso país, através da editora JACC Records, responsável por discos de artistas como a orquestra LUME, o pianista João Paulo, ou a cantora Maria João, e ainda através do Portugal Jazz, ciclo itinerante e permanente que levou já o jazz nacional a inúmeros pontos do território.
Como exemplo do engenho e criatividade da organização, numa série de iniciativas que apoiam e promovem, sem limites ou preconceitos, o jazz que é feito no nosso país, fica a distribuição gratuita da revista feita a todos os espectadores do Portugal Jazz. O objectivo: "Que as pessoas levem para casa algo que as motive a acompanhar o fenómeno do jazz em Portugal", diz Pedro Rocha Santos. Mas os rapazes do JACC não se ficam por aqui. Numa estratégia que visa levar o jazz e a música improvisada para fora dos grandes centros, associando-o a conceitos como natureza, património, tradição ou gastronomia, tem início do próximo domingo, dia 27, o Xjazz - Ciclo de Jazz das Aldeias do Xisto, uma série de eventos que, de forma algo surpreendente, procura levar o jazz a algumas das aldeias mais remotas e inexploradas do país.
Integrado no território da Rede das Aldeias do Xisto, o XJazz irá prolongar-se até ao final do ano, passando por Góis, Gondramaz, Cerdeira, Pedrógão Pequeno ou Miranda do Corvo. Um recital a solo pelo extraordinário contrabaixista Ingebrigt Haker Flaten (Vila Cova de Alva, Arganil, 16h), marca o arranque de um programa (detalhes em xjazz.org) onde estão previstos inúmeros concertos, acções de formação e workshops, destacando-se aquele que será um dos pontos altos do festival: a residência artística orientada pelo saxofonista Evan Parker de 14 a 18 de Agosto na aldeia do Pedrógão Pequeno, na Sertã. Uma semana de trabalho intenso com diversos músicos nacionais cujo resultado será apresentado, em concerto, no último dia da residência. Trata-se, assim, de mais uma iniciativa notável em que será dado destaque à criação portuguesa contemporânea, a uma efectiva descentralização cultural e a uma muito necessária e fundamental formação de novos públicos.
E voltando ao Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, onde tudo começou, importa, claro, dizer que arranca amanhã a sua 10.ª edição, reafirmando-se a importância e relevância de um dos grandes festivais de jazz nacionais. Importância que é dada, antes de mais, pela aposta num jazz desafiante e criativo, com uma programação (ver caixa) que equilibra de forma sólida projectos nacionais e estrangeiros, passando habitualmente por formações que traçam actualmente o futuro do jazz. É esse o caso dos Trespass Trio, projecto liderado por Martin Kuchen que constitui o grande destaque desta 10.ª edição do Jazz ao Centro. Sobem ao palco do Salão Brazil, em três noites consecutivas e em sessões de três sets que serão gravadas, como habitualmente, para posterior edição discográfica.
Estarão Kuchen no saxofone, Per Zanussi no contrabaixo e Raymond Strid na bateria, aos quais se junta como convidado o lendário Joe McPhee, em saxofone e trompete. Um ritual que proporcionará ao público a oportunidade de testemunhar a evolução orgânica, ao vivo, de uma das grandes formações do jazz actual.
Destaque ainda para as actuações dos ATOMIC (com Fredrik Ljungkvist, Magnus Broo, Håvard Wiik, Ingebrigt Håker-Flaten e Paal Nilssen-Love), e Carlos Zíngaro, nome maior da livre improvisação nacional que actua a solo no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, evocando o brilhante Solo, gravado ao vivo em 1989 no Mosteiro dos Jerónimos.