Gambrinus dá vida
Há oito anos não íamos ao Gambrinus. Por sinal, vamos sempre, de década em década, na terça à noite ou na quarta ao almoço, quando folga o senhor Brito, que é o maior amigo, filósofo, entertainer, psicólogo, historiador, gastrónomo, mordomo, humorista, esteta e
restaurador geral que o meu mundo já conheceu. O génio é um homem.
O balcão do Gambrinus sobrevive e singra. A clientela ausenta-se e morre mas as tradições continuam a ser obedecidas. As modas (só as boas, longamente consideradas) vingaram: já há vários whiskies irlandeses e o gin Hendricks já consta em vez do maldito Kensington.
Pedindo uma segunda garrafa grande de Água das Pedras (o pessoal do Gambrinus trata, aristocraticamente, a água com o mesmo respeito que confere ao álcool) o excelente senhor Gonçalo, que veio substituir o excelente senhor Alexandre, que se reformou, perguntou logo: "Posso servir nos mesmos copos?"
Quando a Maria João, que nunca come carne de vaca, comeu um croquete (contra os meus dois), pediram-se à cozinha três croquetes tão bons ou ainda melhores do que os de sempre. Ela gostou tanto que pediu mais um. Soprou logo o senhor Gonçalo: "Frita mais um". E veio com a mostarda inglesa da Colman"s. No meu tempo, não havia. Era eu que trazia a lata e o senhor Brito misturava. Comemos ovos à espanhola e gelado de avelã com chocolate, com café de balão. Íamos para a oncologia e para a morte. Saiu-nos caro mas salvámo-nos. Ficámos bem. Viva o Gambrinus!