A morte da verdadeira rainha do disco, ícone feminista, voz de futuro

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Donna Summer era "uma mulher de muitos dons, o maior de todos a sua fé", disse o marido Reuters

Donna Summer 1948-2012 A intérprete de I feel love ou Hot stuff foi a cantora mais importante do disco e uma das faces mais reconhecíveis da década de 1970. Morreu ontem aos 63 anos

O disco foi durante muito tempo o kitsch mais kitsch da música popular urbana. Era visto como a representação máxima de mau gosto na música popular urbana, descartável, derivação facilitista da soul e do funk, ou seja, da grande música afro-americana. Mas, se tinha essa fama - e se pensarmos em nomes como Village People ou Boney M., merecia-a -, a culpa não era certamente de Donna Summer. A cantora de I feel love ou Hot stuff foi a voz do disco como vanguarda da música de dança, expressão física polémica para os conservadores e libertadora, por exemplo, para a comunidade gay que a adoptou como bandeira.

Donna Summer, uma das cantoras mais famosas da passagem da década de 1970 para a de 1980, morreu ontem aos 63 anos, na Florida, com um cancro que manteve desconhecido do público. A morte foi confirmada num comunicado emitido pela família e assinado pelo marido, Bruce Sudano. "Esta manhã, perdemos Donna Summer Sudano, uma mulher de muitos dons, sendo o maior de todos a sua fé."

Que o maior dos atributos de Summer fosse a sua fé seria discutível para muitos em 1975, quando gravou, juntamente com o produtor italiano Giorgio Moroder, Love to love you. Nela, o lado mais carnal da soul tornava-se explícito na lânguida sensualidade do ritmo, na expressividade das orquestrações e, principalmente, na voz de Donna Summer, nos gemidos de Donna Summer (simulados mais de 20 orgasmos na gravação, escreveu-se) que fizeram de Love to love you o correspondente, na década de 70, ao Je t"aime moi non plus de Gainsbourg e Jane Birkin, da década anterior. A sua carreira seria definida por duas canções: Love to love you e I feel love. Esta, outra criação de Moroder, daria um sinal de futuro que se revelaria fundamental para as décadas seguintes. Despida das cordas luxuriantes, de banda, de roupagens disco tal como então eram entendidas, era um portento de música de dança construído em sintetizador e caixa de ritmos e tornou-se marco fundamental para a música electrónica futura.

Em Love to love you, Donna Summer surge como voz e corpo de sensualidade livre e sem complexos. Em I feel love, mostra-se como uma cantora atenta aos sinais de modernidade, guiada por Moroder e Pete Bellotte na fundamental editora Casablanca.

Nascida LaDonna Adrian Gaines a 31 de Dezembro de 1948 em Boston, Massachussets, cresceu numa família fortemente religiosa e teve a primeira experiência musical num coro gospel. Em meados dos anos 1960, entusiasmada com Janis Joplin, juntou-se a uma banda rock de vida curta, os Crow. O momento decisivo na sua carreira seria, porém, a mudança para a Áustria e, posteriormente, para a Alemanha, onde integrou o elenco do musical Hair. Em 1972, casou com o actor Helmuth Sommer, de quem se separaria pouco depois e que estava nessa altura longe de imaginar que o seu apelido, adaptado, se tornaria num dos mais ouvidos e citados nos anos seguintes no mundo da música.

Criadora de disco que assegura o bom nome do género, voz do anúncio global de uma revolução pop electrónica, ícone feminista com She works hard for the money, Donna Summer acumulou álbuns e canções nos tops e cinco Grammys antes de a sua carreira entrar numa fase discreta no final da década de 1980.

O seu último álbum, Crayons, foi lançado em 2008.

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