Mary, a última tragédia dos Kennedy
“É novamente a maldição dos Kennedy”, escreve a Forbes. “Culpem os assassinos, as árvores ou os aviões, mas não culpem a maldição porque as maldições não matam”, lê-se no Daily News. Maldições à parte, a família Kennedy viveu nesta quarta-feira mais uma tragédia. Mary Kennedy era a segunda mulher de Robert Kennedy Jr., sobrinho do presidente norte-americano John F. Kennedy. A autópsia revelou que morreu por asfixia causada por enforcamento.
O processo de divórcio não tinha ainda chegado ao fim. Mary teve quatro filhos com Robert Kennedy Jr, com quem foi casada 16 anos, e os que a conheciam recordam o espírito radiante e criativo. Foram estes, aliás, os adjectivos escolhidos para a mensagem escrita no comunicado em que a família anunciou a sua morte.
Mary Kennedy terá deixado um bilhete, uma nota. Não se sabe a quem se dirigia, talvez aos filhos, talvez ao marido de quem estava separada, que é advogado e especialista em questões ambientais. O que se sabe é que, pelas 13h30 em Bedford, a polícia recebeu uma chamada telefónica para investigar uma possível morte. O corpo viria a ser descoberto pouco depois, junto ao anexo da casa onde Mary Kennedy vivia.
Ela e Robert Kennedy Jr. casaram em Abril de 1994, um mês depois de ele se ter divorciado da primeira mulher, Emily Black. O primeiro filho, Conor, nasceu no Verão seguinte. Mais tarde viria uma filha e mais dois rapazes.
Mary foi uma grande amiga de Kerry, a irmã de Robert Jr.. As duas chegaram a partilhar casa quando estudavam na Brown University. Quando Kerry casou, Mary foi uma das damas de honra e, através dela, conheceu o futuro marido. Chegou a trabalhar como arquitecta. Por isso, no comunicado divulgado nesta quarta-feira pelo gabinete de Robert Kennedy Jr, é destacada a sua dedicação à arquitectura e ao design aliadas ao respeito pelo meio ambiente.
Os últimos anos foram marcados por incidentes que levaram a polícia a visitar a casa da família por diversas vezes. Depois do pedido de divórcio, em Maio de 2010, Mary Kennedy viu a carta de condução ser-lhe apreendida durante 90 dias por guiar com excesso de álcool e, nem um ano depois, voltaria a ser apanhada pela polícia, desta vez a conduzir sob a influência de drogas.
Nesses momentos difíceis, Mary contou com o apoio de vários membros do clã Kennedy. Ethel Kennedy, a sogra, chegou a escrever uma carta ao tribunal onde o seu caso foi julgado a descrevê-la como “uma mãe cuidadosa”, e a amiga Kerry foi ainda mais efusiva: “Quando olho para as minhas três filhas, o meu desejo é que elas sejam tão abençoadas como eu fui em ter uma amiga confidente como Mary Richardson.”
A “maldição” continuaÀ volta da casa, onde Mary Kennedy morreu, uma mansão de tijolos vermelhos, a polícia mantinha ontem os jornalistas à distância. A curiosidade advém do apelido Kennedy, claro, um apelido que é tanto sinónimo de poder como de tragédia. Mary foi a última dessas tragédias, de uma longa lista de mortes, desastres, assassínios ou infortúnios.
O pai de Robert Kennedy Jr., o antigo senador Robert F. Kennedy, foi assassinado em Junho de 1968, quando ele era ainda uma criança, logo após ter vencido as primárias do partido Democrata na Califórnia. Isto cinco anos depois de o presidente John F. Kennedy, irmão de Robert e tio de Robert Jr., ter sido assassinado com um tiro em Dallas, no Texas.
A morte de JFK chocou a América, mudou a sua história, deixou novamente de luto a família Kennedy que, naquele ano de 1963, tinha já um passado trágico.
Em 1941, uma tia de Robert Kennedy Jr., Rosemary Kennedy, irmã do senador norte-americano Ted Kennedy, foi internada com problemas mentais após uma lobotomia que correu mal. O próprio Ted Kennedy, que viria a morrer de cancro em 2009, escapara com várias vértebras partidas a um desastre de avião, em 1964, e à queda do carro que conduzia de uma ponte, em 1969.
Ainda em 1944, o mais velho dos tios de Robert Kennedy Jr., Joseph Kennedy, morreu na queda de um avião de combate durante a II Guerra Mundial, e já em 1948 outra queda de avião, desta vez em França, causou a morte de outra tia, Kathleen Kennedy, que na altura tinha 28 anos.
Em 1984, David Kennedy, um dos 11 filhos de Robert Kennedy, morreu devido a uma overdose de cocaína e outras drogas. Tinha também 28 anos. E 13 anos depois, em 1997, outro filho de Robert, Michael, embateu numa árvore enquanto esquiava e não resistiu aos ferimentos.
Já no final da década de 90, a família Kennedy assistiu à morte de John Jr., o filho do antigo presidente norte-americano, e da sua mulher, Carolyn, quando o avião em que seguiam se despenhou no Atlântico, junto à costa de Massachusetts. Agora, 13 anos depois, foi Mary quem fez que se voltasse a juntar as palavras “maldição” e “Kennedy” na mesma frase.