Comissariada por Haden Guest, director do Harvard Film Archive, The School of Reis é uma retrospectiva tanto mais digna de nota quanto a obra poética e etnográfica de Reis e Cordeiro, citada como exemplar por nomes como Jean Rouch ou Joris Ivens, continua insuficientemente conhecida e mostrada em Portugal e no resto do mundo.
O programa de onze filmes permite traçar uma genealogia do que Guest define como “a tradição portuguesa de cinema radical”, cruzando filmes onde Reis colaborou e que foram influentes na sua obra posterior, com realizações de alunos seus na Escola Superior de Teatro e Cinema como João Pedro Rodrigues, Pedro Costa ou Joaquim Sapinho, cujos filmes têm obtido repercussão internacional significativa.
O ciclo, a decorrer até 26 de Maio, apresenta os quatro filmes assinados por Reis e Margarida Cordeiro: a curta Jaime (1974) e as longas Trás-os-Montes (1976), Ana (1985) e Rosa de Areia (1989).
No programa, Haden Guest descreve-os como tendo inventado “uma linguagem de cinema poeticamente liberta e hipnoticamente cinematográfica”.
Seguem-se dois filmes formadores na carreira e na obra de António Reis, Acto da Primavera de Manoel de Oliveira (1962), onde foi assistente de realização, e Mudar de Vida de Paulo Rocha (1966), onde colaborou no argumento e nos diálogos. O ciclo completa-se com uma selecção de obras assinadas por cineastas que foram alunos de Reis na Escola e reivindicam a sua influência: a curta de fim de curso de João Pedro Rodrigues, O Pastor (1988), as longas Uma Rapariga no Verão de Vítor Gonçalves (1986), O Sangue de Pedro Costa (1989) e Glória de Manuela Viegas (1999), e, finalmente, Deste Lado da Ressurreição (2011), o mais recente filme de Joaquim Sapinho, estreado no festival de Toronto em 2011 mas ainda não exibido comercialmente em Portugal.
A retrospectiva, que contou com o apoio do Instituto Camões e da Cinemateca Portuguesa, seguirá posteriormente para os Anthology Film Archives em Nova Iorque, onde será exibida entre 22 e 28 de Junho, no início de uma tournée mundial. Que se espera venha a passar por Portugal, onde os filmes de António Reis e Margarida Cordeiro são insuficientemente conhecidos e raramente exibidos, e mereceriam uma retrospectiva assim.