Cidadãos plantam mini-relvado contra lugar de estacionamento

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Onde antes estava um ecoponto, hoje está relva PEDRO CUNHA

Câmara de Lisboa quis apenas remover um ecoponto, mas deu lugar a mais um automóvel. Agora está lá relva fresca

Uma parcela da praça fora recortada, abrindo espaço a mais um automóvel. Mas um grupo de moradores não gostou e agora estão lá 18 metros quadrados de relva fresca. Eis uma nova forma de ocupação cívica do espaço público em Lisboa.

Foi preciso uma noite inteira de trabalho, entre sábado e domingo passado, para um pequeno grupo de cidadãos materializar o protesto. A Câmara de Lisboa havia removido um ecoponto que estava num canto da Praça das Flores, junto a uma esplanada. Os contentores estavam enterrados e, segundo a câmara e os moradores, constituíam um foco de atracção de lixo de toda a espécie.

Em vez de restituir o espaço à praça, a autarquia optou por uma alternativa que não agradou a toda a gente: a área dos contentores foi transformada num lugar de estacionamento - um recurso escasso naquela zona da cidade.

O pavimento, porém, começou a ceder com o peso das viaturas. O lugar foi vedado para obras e foi nessa altura que João Pedro Barreto, 33 anos, professor do Instituto Superior Técnico, resolveu agir. Contactou pessoas dispostas a repartir os cerca de 100 euros que custaria o protesto e avançou. "Comprámos a relva e fomos lá de madrugada plantá-la", afirma. Duas placas no local informam das razões do protesto, uma delas com uma mensagem simples, dizendo que aquele espaço "pertence às pessoas" e não a um automóvel com um único ocupante.

Mas por pouco o relvado não morreu à nascença. "Terminámos de colocá-lo às 6h da manhã e às 8h acordaram-me dizendo: "Estão a tirar a relva"", conta João Barreto. Na verdade, era uma empresa de construção civil que viera arranjar os buracos do lugar de estacionamento. Antes de consolidar o terreno, os trabalhadores retiraram cada placa de relva e depois amontoaram-nas cuidadosamente no local, permitindo a sua rápida reposição.

O mini-relvado surpreendeu os moradores. "Como é que eu não vi isto antes?", reagiu Ricardo Sobral, autor do blogue "Bicicleta na cidade", ontem à tarde. "Isto está seguro?", perguntava Mariana Calha, que tinha antes reparado nos buracos do lugar de estacionamento. "Acho muito bem, fica bonito assim", afirma.

Mas não é tudo. Naquele bairro, como noutros em Lisboa, a recolha de lixo porta-a-porta está a criar problemas, com lixo acumulado ao longo do dia em vários locais, incluindo o ecoponto. "O contentor era uma vergonha", diz Mariana Calha.

Para a Câmara de Lisboa, remover o ecoponto era o objectivo principal - no âmbito de um plano para reduzir aos "vidrões" os contentores de reciclagem na maior parte da cidade até 2013, ficando o resto abrangido por recolha porta-a-porta. "Não fazemos questão que aquele espaço seja um lugar de estacionamento. Se for da vontade dos moradores que seja parte da praça, estamos disponíveis para analisar o assunto", afirma João Camolas, assessor de imprensa do vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes.

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