Desde Novembro saíram 181 da RTP, Eládio Clímaco foi o último

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Eládio Clímaco pronto para regressar ao mercado

As rescisões amigáveis têm vindo a cortar nos quadros da televisão pública. Actualmente há 2050 trabalhadores

Foi muitos anos a cara de eventos como os Jogos sem Fronteiras ou o Festival da Canção, e voz inconfundível em documentários. Sempre na RTP e durante 40 anos. O que começa a não ser muito comum no apertado panorama televisivo português. Eládio Clímaco deixa a televisão pública amanhã por obrigação legal devido ao limite de idade - fez 70 anos em Outubro. Mas praticamente ainda não tinha tirado a maquilhagem da sua última aparição no ecrã, ontem à tarde, no programa Portugal no Coração, e já dizia ao PÚBLICO estar à espera de voltar em breve.

A saída de Eládio Clímaco por limite de idade é apenas a última de um rol que tem ido esvaziando os quadros da RTP. Além de técnicos, desconhecidos para os espectadores, também algumas caras emblemáticas da estação foram saindo. Em Fevereiro de 2011, Judite Sousa e José Alberto Carvalho foram para a TVI; seguidos por José Fragoso, director de Programas. Há três semanas, a jornalista Maria Elisa aderiu às rescisões amigáveis e deixou a RTP sem querer falar publicamente sobre o assunto.

Segundo a RTP, desde Novembro de 2011, ao abrigo do plano de rescisões voluntárias, saíram por mútuo acordo 181 trabalhadores. E desde Janeiro de 2011 houve 29 reformas. Actualmente, a RTP tem nos seus quadros 2050 trabalhadores.

"Estou à espera de voltar. Digo isso nem que seja para me enganar a mim próprio", afirma, em tom de brincadeira, Clímaco. A solução terá sempre de passar por uma produtora externa e é por isso que diz estar, a partir de segunda-feira, "no mercado de trabalho". Nos últimos tempos, Clímaco apresentava o programa Há Conversa na RTP Memória - talvez não tenha sido à toa que a última edição tenha sido dedicada ao fado e à saudade.

Ironicamente, apesar de o público o reconhecer pelos Jogos sem Fronteiras e pelo Festival da Canção, Eládio diz que fez coisas que, para si, tiveram "mais interesse e importância", sobretudo no período pós-25 de Abril de 1974, quando estava na área da informação, ou na área da narração dos documentários.

Ana Zanatti, escritora, actriz e apresentadora, com quem partilhou o palco muitas vezes nos festivais e que teve um percurso semelhante na RTP, diz que essa múltipla formação daquela geração lhes trouxe mais-valias, mesmo que por vezes houvesse trabalhos "sem grande interesse". "Há que encontrar a pérola no meio da palha, porque em tudo há oportunidades de aprendizagem", diz Ana Zanatti ao PÚBLICO.

Mas Eládio veste com gosto o fato dos dois programas emblemáticos. Considera que os Jogos foram "a premonição da actual União Europeia", lembrando a génese do programa, criado pela França, Itália e Alemanha "para aproximar jovens dos países que foram inimigos durante a guerra". Lamenta que a RTP tenha deixado cair o programa, que tinha uma componente competitiva, mas sobretudo "lúdica e cultural".

Tal como também o entristece o que fez com o Festival da Canção. "Tem perdido qualidade muito por culpa dos directores que foram passando, que consideravam o festival "pimba". Houve festivais que foram uma vergonha", critica. O festival perdeu interesse pela "falta de qualidade das canções, dos cenários, da roupa e até da imagem da gala. Perdeu-se totalmente o glamour", condição essencial para um festival.

Tal como Zanatti, Clímaco lamenta que em Portugal os apresentadores mais velhos sejam "postos de lado". Nos outros países continuam a ter o seu espaço, "fizeram mesmo escola e mantêm um público fiel", conclui Zanatti.

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