Mais de 700 alunos desistiram este ano do Erasmus
Segundo dados fornecidos ao PÚBLICO por universidades e politécnicos, 716 alunos cancelaram a sua participação no programa desde a fase de candidatura, há cerca de um ano. Em alguns casos, as desistências duplicaram em relação ao ano passado, noutras representam quase metade das candidaturas.
As universidades e politécnicos dizem que o baixo valor das bolsas de estudo de mobilidade ajuda a explicar esta realidade. Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), o número de desistências neste ano lectivo (76) praticamente iguala a soma dos dois anos anteriores (78), ao passo que na Universidade Nova de Lisboa há 90 desistências, o que representa um aumento de 30% face ao ano passado. A tendência é geral e na Universidade de Coimbra, por exemplo, os cancelamentos atingiram um número-recorde (237 num total de 649 candidaturas), ao passo que na Universidade do Porto há 88 alunos desistentes este ano, valor acima do habitual nos últimos dois anos (47 e 50, respectivamente).
Nos institutos politécnicos observa-se a mesma realidade. No caso de Castelo Branco, a realidade disparou, totalizando 47 anulações este ano, quando nunca tinha ultrapassado uma dezena. Em Setúbal, nunca houve abandonos, até este ano, em que já aconteceram quatro, e em Tomar duplicaram, para um total de 20.
A excepção a esta regra é a Universidade do Minho, onde as desistências desceram para menos de metade em três anos (52 para 25), ao passo que em cinco instituições (Politécnicos de Lisboa, Cávado e Ave, Viana do Castelo e Santarém e o ISCTE) não houve alunos a abdicar do período de estudos no estrangeiro.
A principal justificação usada pelos estudantes é a dificuldade em encontrar recursos económicos para fazer face às despesas do Erasmus. Na UTAD, os “motivos financeiros” são a opção mais usada no formulário de desistência, juntamente com os “motivos familiares e pessoais”, mas as questões económicas têm ganhado expressão, representando hoje o dobro dos casos face a 2009. E a justificação repete-se nas restantes instituições de ensino superior.
“Parece-nos haver um aumento no número de desistências em função da crise económica”, reconhece a directora do gabinete de relações internacionais do Politécnico de Tomar, Conceição Catroga. A responsável refere que há “muitos potenciais candidatos que nem sequer ousam apresentar uma candidatura” por causa dos custos associados ao período de estudos no estrangeiro.
A explicação passa em muitos casos também pelo valor das bolsas Erasmus. “Os estudantes que realizam as suas mobilidades transmitem-nos quase sempre que as bolsas são insuficientes”, explica a directora do gabinete de mobilidade do Politécnico da Guarda, Anabela Pires.
A bolsa média para um estudante português no programa Erasmus é de 285 euros mensais, acima da média europeia (250 euros), mas longe do que é pago por Chipre (quase 700 euros). Portugal é o 13.º país com bolsa mais baixa, do total de 32 estados envolvidos neste programa europeu. Os dados das universidades e politécnicos mostram uma tendência de aumento do número de estudantes integrados no programa Erasmus. As instituições nacionais mantêm a tendência de 2010
2011, em que 5964 alunos estiveram a estudar fora do país ao abrigo do Erasmus, mais 10,7 por cento face ao ano anterior, um valor acima da média europeia.
No entanto, há instituições que começam já a sentir um decréscimo no número de candidaturas respeitantes ao próximo ano. No politécnico de Castelo Branco, houve 108 alunos que mostraram intenção em estudar no estrangeiro em 2012
2013 (abaixo dos 143 deste ano), mas já houve, entretanto, 36 desistências. “É um número inédito, principalmente sabendo que o período habitual em que se registam mais desistências é entre Julho e Setembro”, reconhece Conceição Baptista, coordenadora dos programas de mobilidade. Entre esses estudantes, “a esmagadora maioria apresenta motivos financeiros”.